Esse pressuposto frívolo e falho (ou fressuposto) de que o poema necessariamente – e por definição ou natureza – tenha um sentido prévio, dado e depois mecanicamente construído e adornado por palavras, quantificável, anterior, apodítico destino da jóia palavrosa, poesia, sob pena do poema não ter sentido, se este não for óbvio e ulular, como escrínio verbalizado incólume. E dai vem o sem-sentido da poesia, que está-sempre-além- e-aquém de todos os falíveis sentidos, de que se impregnem as coisas comuns (e os homens idem, como Joyce previu), cotidianas, transitórias, etc.
Poesia de sentido estabelecido é como sociedade sem destino político.
Todo buscam (menos as minhas leitoras íntimas) – preconceituousadamente – ao ingerir o poema (mesmo sem mastigá-lo) digeri-lo no facilitário dos sucos ávidos do simplismo, porque ao espírito não convém complexidades, quando o ócio impere sobre o negócio (aleatoriamente). Caso não achem logo, de súbito decúbito espiritual, o sentido fácil, a indigestão é fatal, e o vômito, incoercível.
Essa busca do sentido perdido na arca de palavras, que é o poema, é o que todos fazemos? Ou deveríamos fazer.
Essa busca do sentido (e não seu encontro, sua decifração frágil, desencantamento do espírito leitor) é o sentido da poesia – e não o do poema, que é indiferente ao leitor. Sentido que se desdobra insensatamente pelos labirintos da página (leitor indecifrável do poema, Teseu virtual, com o fio da intuição, adora o Minotauro).
Diferente o sentido da prosa, que é implícito e explícito, sob pena de não sê-la, ou sê-lo poesia.
Sentido linear, as marcas do finito e do perecível no corpo do poema, é ilusão.
A poesia é o caos invisível em cuja essência harmonia há.
Ser invisível é ser inalcançável. É o ser da poesia, tenha forma de poema ou não.
Ler um poema é a largada (no grid da página) de uma busca inencontrável, do perdido e precioso sentido – e se sabe que para o antemão dessa busca não há solução (de continuidade), nem ela cessa (nunca), pois incessar é o seu destino, do leitor que lê e da poesia que é.
O sentido antecipadamente estabelecido é balela. E leva o leitor ao beleleu – e não a pasárgadas.
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