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Qui, Abr

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A Poesia Absoluta recusa – e é peremptória (abomina o conteudismo como finalidade da linguagem como ideologia que faz veículo da palavra) redução (da palavra poética) a conteúdos obrigatórios e essenciais. Palavra que exista só pelo que diga, que objetive só e nada mais que conteúdo.

Quando, para a poesia, a palavra deva desobjetivar, recusar a sela e a carga de conteúdo (pesado ou não). Palavra poética não é animal levando recado. Não é alimária de mensagem. Acabou esse tempo. Acabou. Absolutamente.

 

Uma estrofe quase estropiada

sob o peso feroz e injusto

dos conteúdos que carreguem

mensagens (sociais ou não)

que as pobres palavras ou formas

em seus lombos verbais transportam.

 

Nova subjetividade é a proposta da PA.

A página branca é uma caixa preta que o poeta

absoluto abre e liberta os tentáculos da emoção

para que fique a poesia pura.

 

VIVER OU MORRER

 

Viver é simples. O problema é se manter vivo. Precisamos ingerir nutrientes sãos, expelir excrementos mais ar inalar sempre (lógico que com oxigênio O), tudo para evitar o pior: que nossas queridas células morram de tédio (caso nada disso aconteça). Todo o resto é opcional. Conforme The big bang theory e a filosofia. Viver é negligenciar a morte.

E viver sempre. Se você quer ser imortal, transfira sua consciência (que o mata) para uma máquina, e dê imortalidade à carne. Ou faça upgrade para outra carne. Sobretudo, não pense, goze. Segundo consta, se você sofrer muito nessa vida, será feliz na outra, compensatoriamente. Se você foi compensado, vai madeira de lei legal.

Quanto dura a eternidade?

Onde ela termina?

Em Deus, no infinito, na fronteira do ser e o nada?

E os lábios dos relógios o que beijam?

O átimo ou o sítio?

O instante ou o século?

O tempo luz ou é cego?

O tempo é vivo? Morde?

Tem víscera e coração?

Ou é um sopro do fim

e uma plenitude infindável e muda.

Ou eterno só será o instante.

E o presente um estado

dele em nós?

 

Se algo vibrar além do coração

em mim

é o tempo em ti.

 

AMOR

Amo a treva. E seus olhos longos e lânguidos como ângulos

Sonho com o artelho de Aquiles a cada manhã

amo cheiro de terra e inferno (que suguei

de um canto de Dante)

 

amo manoplas e decretos

vidro de missas, águas vândalas

decúbitos em progresso

nuvens natalinas

cornucópias estéreis

lampejos quebrados

rimas estragadas

e sabores de dor

além de sabres habitando a carne.

 

Amo frasco de bromil e centopeia em abril

amo fontes vazias e desertos amplos

sobretudo amo as formas da guerra

e distúrbios vermelhos.

Amo bolor e confete amarelo

jardim fanado, verão desolado

hóstia de sal, serpente eriçada.

Amo saber que o amor não virá a tempo.

 

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Murilo Gun

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