A Poesia Absoluta recusa – e é peremptória (abomina o conteudismo como finalidade da linguagem como ideologia que faz veículo da palavra) redução (da palavra poética) a conteúdos obrigatórios e essenciais. Palavra que exista só pelo que diga, que objetive só e nada mais que conteúdo.
Quando, para a poesia, a palavra deva desobjetivar, recusar a sela e a carga de conteúdo (pesado ou não). Palavra poética não é animal levando recado. Não é alimária de mensagem. Acabou esse tempo. Acabou. Absolutamente.
Uma estrofe quase estropiada
sob o peso feroz e injusto
dos conteúdos que carreguem
mensagens (sociais ou não)
que as pobres palavras ou formas
em seus lombos verbais transportam.
Nova subjetividade é a proposta da PA.
A página branca é uma caixa preta que o poeta
absoluto abre e liberta os tentáculos da emoção
para que fique a poesia pura.
VIVER OU MORRER
Viver é simples. O problema é se manter vivo. Precisamos ingerir nutrientes sãos, expelir excrementos mais ar inalar sempre (lógico que com oxigênio O), tudo para evitar o pior: que nossas queridas células morram de tédio (caso nada disso aconteça). Todo o resto é opcional. Conforme The big bang theory e a filosofia. Viver é negligenciar a morte.
E viver sempre. Se você quer ser imortal, transfira sua consciência (que o mata) para uma máquina, e dê imortalidade à carne. Ou faça upgrade para outra carne. Sobretudo, não pense, goze. Segundo consta, se você sofrer muito nessa vida, será feliz na outra, compensatoriamente. Se você foi compensado, vai madeira de lei legal.
Quanto dura a eternidade?
Onde ela termina?
Em Deus, no infinito, na fronteira do ser e o nada?
E os lábios dos relógios o que beijam?
O átimo ou o sítio?
O instante ou o século?
O tempo luz ou é cego?
O tempo é vivo? Morde?
Tem víscera e coração?
Ou é um sopro do fim
e uma plenitude infindável e muda.
Ou eterno só será o instante.
E o presente um estado
dele em nós?
Se algo vibrar além do coração
em mim
é o tempo em ti.
AMOR
Amo a treva. E seus olhos longos e lânguidos como ângulos
Sonho com o artelho de Aquiles a cada manhã
amo cheiro de terra e inferno (que suguei
de um canto de Dante)
amo manoplas e decretos
vidro de missas, águas vândalas
decúbitos em progresso
nuvens natalinas
cornucópias estéreis
lampejos quebrados
rimas estragadas
e sabores de dor
além de sabres habitando a carne.
Amo frasco de bromil e centopeia em abril
amo fontes vazias e desertos amplos
sobretudo amo as formas da guerra
e distúrbios vermelhos.
Amo bolor e confete amarelo
jardim fanado, verão desolado
hóstia de sal, serpente eriçada.
Amo saber que o amor não virá a tempo.
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