Tacham os tais reacionários atuais Mário de Andrade, chefe do modernismo radical (ora de 1922 originou-se, brotou o único modernismo), quando na realidade Mário de Andrade foi corifeu do modernismo real, ultrajado, vilipendiado, combatido, desde o início e continuamente pelos que o não aceitavam, até enfraquecê-lo, dividi-lo, e a partir da Geração 45 derrotá-lo, suprimí-lo.
Mário de Andrade (Oswald e cia) foi introdutor da realidade moderna na poesia. O que foi obstado, violentamente, pelos corifeus do reacionarismo literário de parte da Geração de 1945. O modernismo iniciado em 1922 (que não se constituía em geração, mas eram pessoas de carne e osso, construindo-o, pregando-o nos púlpitos do Teatro Municipal de São Paulo) não tinha por que esquecer ninguém.
Como reclamam (os tais reacionários) dizendo, gritando. Isso porque ele (o movimento modernista de 1922) trazia, agregava (congregava) o novo ao velho (extraia a novidade do jáestabelecido, e bem, na poética brasileira), em especial, na poesia).
Se a eclosão do movimento, não só renovador, mas instituidor, de 1922, trouxe em seu bojo, de propósito, uma proposta destruidora de dogmas velhos vencidos, em sua iconoclastia, uma verdade poética capaz de estourar as bolhas simbolistas e de destroçar o exército, poderoso, porém atrasado, de milhares de poetas parnasianos, veio com a aparência de que tudo começava de novo, de radicalmente novo (na poética e na arte plástica em geral), como todo movimento radical transgressor, inaugural de nova sensibilidade poética e modalidade de rima, ele choca e se mostra abusivo, diz para o que veio. Sem papas na escrita. E não vem com jeitinho de bom moço. E conciliador.
Chega em 1922 e debruça-se – como o corvo de Poe, sobre os escombros do simbolismo (parcial) brasileiro, contaminado de puro parnasianismo, esse vírus que, propagando-se como ratos, assaltou todo o corpo da literatura brasileira pós-geração 45 (e em seu útero permissivo gerado).
Nomes como Augusto dos Anjosseriam modernistas de primeira hora, se o movimento houvesse se instalado em 1912 (dez anos antes). Igualmente, no caso, mutatis mutandis, de Cruz e Souza.
É singular, para não dizer ridículo, o argumento b(r)andido pela corja reacionária de que foi algo antipatriótico o brado de 1922 (cem anos após o do Ipiranga e ano das instalação do rádio no Brasil) que trouxe; internalizou, “artificialmente”, a lição europeia. Como se coisas como dadaísmo, futurismo, expressionismo literários não devessem até hoje terem chegados aqui para macular nossa poesia e desvirtuá-la. Quem sabe exorcizar ou ressuscitar José de Alencar!
Imperou a lorota: Brasil para brasileiros no bojo disto, brotaram os primeiros movimentos desvionistas (ou diversionistas) visando a desqualificação de 1922, como Pau-brasil, Anta, Festa etc.
Esqueceram aqueles senhores representantes radicais do atraso literário que, sem 1922, o Brasil não teria sido o mesmo (que o foi e o é) em literatura (romance, poesia, crítica e principalmente em artes plásticas). E que seria impossível a Semana de Arte Moderna se circunscrever só às artes plásticas. Desde o novecentos, estavam (estiveram e estão) umbilicalmente ligados poesia e pintura.
A derrocada da poesia moderna brasileira começou após a Geração 1930 (CDA, Cecília, Murilo Mendes etc). E todo esse potencial de desprezo ao verso (livre) moderno atualizou-se, de forma dramática e violenta, após a Geração 45.
O preconceito surdo e contínuo contra o modernismo seguiu e cresceu ...até. Após os anos 50, deixou-se de blaterar, de amesquinhar, de bater de frente com o modernismo vindo de 1922, porque, institucionalizado o neoparnasianismo, encoberto-o devidamente, passou-se a chamar de moderna poesia a engendrada pelos corifeus (malfadados) de 1945.
Quem esquecemos em 1922? Murilo Araújo, Hermes Fontes, Adelino Magalhães, Álvaro Moreyra, Tasso da Silveira, Rolando de Carvalho? Eram estes poetas avant la guarde?
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