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Moderno não quer dizer originariamente avançado, contemporâneo. Sua derivação latina é outra. Equivalia o conceito ao latim clássico novus. Moderno não é o velho contemporâneo, nem a sobrevivência do antigo, mas o novo.

Moderno é um neologismo latino vindo de modo, que significava recente, agora, presente. Modo -> moderno, como hodie -> hodierno.

Em Roma, no início da helenização (ou modernização da literatura surgiram os poetaenovi (neoteroi em grego) que colocaram em xeque a tradição romana (representada por Catão e seu partido conservador). Poetas novos (modernos) porque se insurgiam contra a poesia oficial e convencional estabelecida há muito. E ferozmente defendida (pelos sonetistas da época).

Moderno não é termo final de progresso. É apenas início.

O movimento moderno começou na segunda metade do século XIX (circa 1870) e refletia a expansão industrial e financeira britânica, bem como os ares extáticos (literários e artísticos) que varriam a França (Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Valéry). Foi Rubén Dario quem primeiro usou o termo “modernismo” na América hispânica; referindo-se ao espírito novo que grassava aqui (e advinha do frisson noveaux de Apollinaire). A assincronia com o Brasil era patente.

O modernismo foi reforçado na Europa pelo movimento avant-garde (vanguardismo), do começo do século XX. Movimento literário que representou a ruptura com os cânones literários e artísticos vigentes desde o século XIX. Abarcou o futurismo, o expressionismo, o fovismo, o cubismo, o cubofuturismo, o formalismo, o abstraísmo, o impressionismo, o dadaísmo e o surrealismo.

Sob influência da nova sensibilidade e modalidade poética vinda dos procedimentos modernistas que anulavam as técnicas poéticas sobreviventes nos inícios do século XX, sob égide da revista L’Esprit Nouveau, de Le Corbusier, Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, trouxe de Paris, com Oswald de Andrade, as novidades literárias, e cunhou a expressão Espírito Moderno.

Instalou-se oficialmente a modernidade nas artes e letras nacionais do Brasil em 1922. Também data do tenentismo, movimento de modernização da política que iria desaguar na revolução de 30, ano que consolidou a situação moderna da literatura brasileira, com Carlos Drummond de Andrade.

Getúlio Vargas em mensagem ao Congresso Nacional dissera: “O movimento modernista, nas letras e nas artes brasileiras, foi um impulso revolucionário causador da revolução de 30”.

A partir de 1930, a literatura, o cacife cultural passou a ser bandeira de luta. Segundo Mário de Andrade, o movimento modernista (o progresso nas letras e artes) foi um preparador, criando um estado de espírito revolucionário e sentimento de arrebatação essenciais ao progresso político e econômico. E conclui: Os movimentos espirituais procedem sempre as mudanças de ordem social.

A verdade é que, com a segunda geração modernista, a de 30, de CDA, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Augusto Meyer, Raul Bopp, Jorge de Lima, a modernidade instalou-se, enraizou-se e brotou como algo definitivo e institucionalizado como política cultural. Surgiram os poderosos regionalismos centralizando a nova literatura e, em função do papel político assumido, floresceu a literatura de base social, como se dizia, depois, participante.

A decadência literária, em especial, a partir da famigerada Geração 45, com o eterno retorno do soneto, a refundação do parnasianismo triunfante, a revivescência do século XIX nos últimos quarteis do século XX – e seu triunfo no terceiro milênio, repercutiu negativamente e até hoje atinge mortalmente a poesia.

Após os 21 anos golpistas, após a ressureição parnasiana, após a implantação do modelo consumista e da “filosofia” pragmatista própria da sociedade de consumo (de anticultura), a arte literária passou a ser considerada como algo autocomplacente, jogo de salão, ocupação de ócio e coisa gratuita, brincadeira, palhaçada. A arte, a literatura, como cognição, modo de comunicação, ou expressão da vida ou atividade de intelectual expressiva e importante (como já o fora), apenas o é em pequena monta, em claques, no âmbito escolástico moderno, em parcos enclaves intelectuais. Assim não abre os horizontes de uma cultura mercantilista, cada vez mais fechada no vazio de si mesma. Grassa a esterilidade. A ignorância crassa.

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Murilo Gun

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