O lume da água afia-se
a foice do orvalho acende
a cor das rosas e puro
frescor doa ao campo
que leve chuva recebe
do rosto da lavoura
no chão sagrado da Terra.
Jarros de bem-te-vis e chusmas
de rouxinóis saúdam
a alegria das águas
e a campânula das gotas imita
sons de líquidos sinos
repicando nas hortênsias
e no coração dos antúrios
tempestade e candelabro
desencadeando.
Dos beirais dos pássaros
que se derramam das varandas
desce água canora
de sinfonias enchendo
cacimbas debruçadas
sobre sussurrar dos riachos
e úmido murmúrio dos córregos.
Todas as águas do mundo
correm como palavras
para a fonte do poema
estuário e nascente
bacia de metáforas
vaso sagrado onde a beleza
sacia-se das verdades humanas.
Vital Corrêa de Araújo
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