02
Sáb, Ago

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1.A irrupção de expressões prosaicas no verso

que se inicia com Victor Hugo e Baudelaire

e a adoção do verso livre e do poema em prosa

foram recursos contra a versificação silábica cansada

e contra a prosa concebida como discurso rimado.

 

2.Nem todo poema – ou para sermos mais exatos

nem toda obra construída sob as severas

leis da métrica, contém poesia.

Um soneto não é um poema

mas antes uma forma literária, exceto quando

esse mecanismo retórico – estrofe, metro, rima

for tocado pela poesia.

 

3.A linguagem de Eliot recolhe a dupla herança

da prosa e do lirismo: despojo de palavras,

fragmentos de verdade, o esplendor do renascimento

inglês (com a revelação industrial espoucando

das entranhas da velha Álbion)

tudo aliado à miséria e à aridez espetaculares

da tentacular urbe moderna (que Baudelaire denunciou). Vide Benjamin

e o poeta simbolista.

 

4.O mundo moderno perdeu o sentido

e o testemunho mais cru dessa ausência

de direção é o automatismo da associação de ideias

que não está regido por nenhum ritmo

cósmico ou espiritual, mas só pelo acaso.

Para o homem moderno, tudo lhe é estranho

(inclusive o humano?) e em nada ele se reconhece.

Quando toca outro corpo humano, não roça o céu

como queria Novalis, mas penetra numa galeria de ecos.

As flores do mal, de Baudelaire

originalmente era limbos o título, e Terra devastada,

de Eliot, não representa o Inferno, mas o Purgatório.

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Murilo Gun

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