1.A irrupção de expressões prosaicas no verso
que se inicia com Victor Hugo e Baudelaire
e a adoção do verso livre e do poema em prosa
foram recursos contra a versificação silábica cansada
e contra a prosa concebida como discurso rimado.
2.Nem todo poema – ou para sermos mais exatos
nem toda obra construída sob as severas
leis da métrica, contém poesia.
Um soneto não é um poema
mas antes uma forma literária, exceto quando
esse mecanismo retórico – estrofe, metro, rima
for tocado pela poesia.
3.A linguagem de Eliot recolhe a dupla herança
da prosa e do lirismo: despojo de palavras,
fragmentos de verdade, o esplendor do renascimento
inglês (com a revelação industrial espoucando
das entranhas da velha Álbion)
tudo aliado à miséria e à aridez espetaculares
da tentacular urbe moderna (que Baudelaire denunciou). Vide Benjamin
e o poeta simbolista.
4.O mundo moderno perdeu o sentido
e o testemunho mais cru dessa ausência
de direção é o automatismo da associação de ideias
que não está regido por nenhum ritmo
cósmico ou espiritual, mas só pelo acaso.
Para o homem moderno, tudo lhe é estranho
(inclusive o humano?) e em nada ele se reconhece.
Quando toca outro corpo humano, não roça o céu
como queria Novalis, mas penetra numa galeria de ecos.
As flores do mal, de Baudelaire
originalmente era limbos o título, e Terra devastada,
de Eliot, não representa o Inferno, mas o Purgatório.
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