Com teus grandes olhos abertos
colhes o sol, extrais luz do avaro
e inauguras o pleno (magnésio válido)
edulcoras asas, voo de colibris instalas
nas taças das rosas sem conta
e enlouqueces o silêncio
és às vezes chama chumbo
às vezes chama
desejos tu cinzelas, esculpes anelos
e os pregas em meu peito impotente.
Cinzeis beiram o meio-dia
o desejo chega á tarde (tardo)
encontra o rio noturno insatisfeito
para dessedentar-se e crescer.
Mas nada sacia meu coração escuro
cheio de vales e muros.
(As armas de minha derrota
não deponho porque sucumbo).
Queres cegar estrelas (não vê-las mais ou ouví-las)
abocanhar o dom de Júpiter
dilacerar luz e colher
sal dos olhos fechados
(ou por córregos de lágrimas fartos correr)
desperdiçar coivaras e esperas
nichos de claridade cremar
resplendor do sol vedar
faças um poema.
Das mordaças do amanhecer
sorver a noite e o sino do galo (não natalino)
colher do cânion da garganta grito úmido
a biscoitar no esôfago.
Ao ermo homem orar
com galhos de açucena suicida.
A cada noite do páramo
(para onde se retiram as águias)
meu olhar mergulha nos jasmins das estrelas
sob fartura do luar prospera sede da luz
distante (e perfeita íris de Deus)
sob a safra do imenso
e o apanágio da brisa fresca e alta
me regojizo com a alma e o mundo.
A claridade é vítima
da crueldade do sol
que destroça a perfeição da noite
no páramo etéreo do Retiro
onde o espírito esquadrinha
céu noturno vasto e se distrai
com a matilha de topázios das estrelas.
Cada sede tem seu vaso saciado
mas ímpio e flácido
barro os aquilata e desmorona.
Do solo da alma só angústia medra agora
o desejo é mais que paisagem extinta
(como a Mata Atlântica).
Ao asilo do olhar finando-se correm
rios pálidos, desejos disfarçados
ou falsos, o riste da vida definhando
como touro esquartejado
(ainda pulsando o coração rebelado).
(Às grandes, límpidas e profundas
chagas da santidade
e ao odor malévolo da impiedade ofereço).
Poentes de sois vermelhos
levante de luas francas
a ocidente de mim
está o escuro, sina do fim
(e rima última e vital).
Ao acaso das águas de nosso tempo
na pele sórdida da Terra
o subsolo já se apresenta
para última cela de nossas almas.
Os rumos das sedes nos rios lentos sabem
já insaciáveis e de úmido e surdo suor
amortalhados ( o talhe da alma já cansado)
porque já não interrogamos constelações.