TÁBULA DEDICATORIAL
Aos sais cerimoniais e às rimas fáceis
ao zênite que sorri das alturas
ao oriente noturno, ao norte da treva
ao nadir do nada, ao devoto da dúvida
à familiaridade convexa dos morcegos
às glândulas exócrinas das abelhas
à lua das esquinas áridas, aos ávidos da vida dúbia
aos árduos códigos da náusea
às carências essenciais
às carícias de cerâmica
às moções carnívoras
ao fútil lume das celebrações
aos tribunais iníquos
às múmias ridentes
aos serenos abismos dos anjos
aos ístimos complacentes
às marés rurais
às mãos vinícolas
à retorta natal
aos candelabros burlescos
aos turíbulos dos sábados
às sumas cadavéricas
ao laudo das larvas
aos gusanos que nunca agonizam
aos sais terríveis da morte
- Lua de esquife orienta bêbados
© © ©
- O lume das celebrações é fútil
© © ©
- As moções são carnívoras
© © ©
- Todos os capitães são insones
© © ©
- E os tribunais iníquos
© © ©
- No poço de um vitral dois anjos exalam luz
© © ©
- As carícias são essenciais aos elefantes africanos
© © ©
- Os ístimos são complacentes
© © ©
- São terríveis as marés rurais
© © ©
- Os turíbulos são caridosos (e burlescos ou nebulosos)
© © ©
- Os sumos, cadavéricos
© © ©
- Candelabros tempestuosos
© © ©
- Súmulas são prolixas (e vorazes)
© © ©
- As sumas são íntimas
© © ©
- Os somos, dispersos
© © ©
- O fetiche é um substituto para o pênis de Freud
© © ©
- Um súbito colóquio de centauros barrocos
© © ©
- A fidelidade tem fronteiras (ultrapassáveis)
© © ©
- A morte detesta cerimônias
© © ©
- Hecatombe de touros centenários
© © ©
- Crescente lua a morte corteja
© © ©
- Zênite é fetiche
© © ©
- A morte te dá os únicos pudores
© © ©
- No joelho de uma febre vi tua face
© © ©
- O degrau da fama é o res do chão
© © ©
- O ódio se espelha na sombra dos príncipes
© © ©
- De Gales vem o látego e a pompa
© © ©
- Príncipe vão, rainha cava: urra o reino
no enterro da tarde magnífica.
© © ©
- Depois de inúteis milênios, o poema
crisálida de papel
© © ©
- O pátio branco dos sujos hospícios vomitava
em cada domingo inglório.
© © ©
- Amor público vende-se nos prostíbulos diários
nos gabinetes do senado vende-se incúria aos sábados
© © ©
- Resvalo pela tarde como
um cansaço na piedade de um declive
© © ©
- A ambrósia da lisonja embriaga
tanto quanto a cocaína da inveja
© © ©
- Os enterros são lentos
a morte é rápida
© © ©
- O apogeu se joga da mais alta das janelas
ao regaço da derrota