Do Recife o mar ora a Garanhuns
Garanhuns é presa
do imaginário familiar pernambucano
cidade alta e intelectual
alpina e renhida
inequivocadamente culta
e sanatorial (qual Cladavel ).
Até os 7,8 anos meus pais
me traziam a ela uma vez por ano
religiosamente para Tavares Correia
o que cumpri com meus filhos
como parte do ritual de passagem
da infância à puberdade.
Esboço essa ode inteira a 1.100 metros acima
de minha biblioteca-estúdio, ateliê de escrita
e leitura (com mais de 10.000 livros) em Recife
e residência (num edifício a 300 metros do
armazém de livros), à beira-mar de
Boa Viagem onde resido desde 1960
e onde nasceram os filhos Cláudio Corrêa de Araújo
Neto e Murilo Gun, comediante stand-up commedy.
Exatamente em cima de uma das sete
colinas de Garanhuns (Quilombo próxima do
Cristo Magano), se pendura o Castelo
onde moro e escrevo.
As águas ajoelhadas
do Atlântico a teus pés beijados
(do planalto oceânico de pedra náufraga)
debulham-se lágrimas de inveja e
do pódio de basalto e nuvem
de que és postada como condor agrestino
ou pássaro do píncaro
contemplando a eternidade (lá embaixo)
como fruto que o tempo te ofereça.
O sal atlântico
do baixio te inveja
e acena
a sonho tão alto.
Alicerces de pedra e pássaro
presença alada
da ponta do planalto
de colinas lascivas e felinas
acrescem a nossos olhos leitores
visões inexpugnáveis
e ornam de sonho
o olhar que desliza
por tua geografia bela e alpina.
Cidade quase alada, quase pedra
demasiadamente humana
de tão alta e de tão vasta cultura suspensa
das asas de algum anjo meridional
ou dos suspensórios de Deus alçada
pera que te invejem as cidades baixas.
Quando perambulo por estas plagas sinto
que minha alma é parte desse alto
de rocha e flor selvagem mas valente
como Simôa Gomes. Sei
que não sou daqui mas
tenho o hábito de Garanhuns
e a elegi minha pátria de pedra e vento.
Garanhuns maior
que o mar e o páramo irmãos em Deus
de onde vem a natureza e o amor natural
encastoada como tigre de Bengala e pêndulo
do alado planalto como onça pintada
cidade próxima do céu
cidade de pedra e alma, de rosa e cigarra
cidade de avara solidão
do esmo da rocha erguida
muito além do chão
como canção ou aleluia.
Garanhuns atada a minha visão infantil cidade
dos eucalíptos que namoram a mais alta eternidade.
Do cimo de suas copas aromáticas
colho os pinos do céu.
Cidade das rosas horárias
e das hélices do amanhecer
e das flores que nunca sucumbem
de sua cor energética
e que nunca desiste de ser.
Cidade das cigarras
que nos enlouquecem as oiças
com suas rascantes canções
e do mavioso de seus deslumbramentos
a olhos elevados.