02
Sáb, Ago

destaques
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Do Recife o mar ora a Garanhuns

Garanhuns é presa

do imaginário familiar pernambucano

cidade alta e intelectual

alpina e renhida

inequivocadamente  culta

e sanatorial (qual Cladavel ).

Até os 7,8 anos meus  pais

me traziam a ela uma vez por ano

religiosamente para Tavares Correia

o que cumpri com meus filhos

como parte do ritual de passagem

da infância à puberdade.

 

Esboço essa ode inteira a 1.100 metros acima

de minha biblioteca-estúdio, ateliê de escrita

e leitura (com mais de 10.000 livros) em Recife

e residência (num edifício a 300 metros do

armazém de livros), à beira-mar de

Boa Viagem onde resido desde 1960

e onde nasceram os filhos Cláudio Corrêa de Araújo

Neto e Murilo Gun, comediante stand-up commedy.

Exatamente em cima de uma das sete

colinas de Garanhuns (Quilombo próxima do

Cristo Magano), se pendura o Castelo

onde moro e escrevo.

 

As águas ajoelhadas

do Atlântico a teus pés beijados

(do planalto oceânico de pedra náufraga)

debulham-se lágrimas de inveja e

do pódio de basalto e nuvem

de que és postada como condor agrestino

ou pássaro do píncaro

contemplando a eternidade (lá embaixo)

como fruto que o tempo te ofereça.

 

O sal atlântico

do baixio te inveja

e acena

a sonho tão alto.

 

Alicerces de pedra e pássaro

presença alada

da ponta do planalto

de colinas lascivas e felinas

acrescem a nossos olhos leitores

visões inexpugnáveis

e ornam de sonho 

o olhar que desliza

por tua geografia bela e alpina.

 

Cidade quase alada, quase pedra

demasiadamente humana

de tão alta e de tão vasta cultura suspensa

das asas de algum anjo meridional

ou dos suspensórios de Deus alçada

pera que te invejem as cidades baixas. 

 

Quando perambulo por estas plagas sinto

que minha alma é parte desse alto

de rocha e flor selvagem mas valente

como Simôa Gomes. Sei

que não sou daqui mas

tenho o hábito de Garanhuns

e a elegi minha pátria de pedra e vento.

 

 Garanhuns maior

que o mar e o páramo irmãos em Deus

de onde vem a natureza e o amor natural

 

encastoada como tigre de Bengala e pêndulo

do alado planalto como onça pintada

 

cidade próxima do céu

cidade de pedra e alma, de rosa e cigarra

 

cidade de avara solidão

do esmo da rocha erguida

muito além do chão

como canção ou aleluia.

 

Garanhuns atada a minha visão infantil cidade

dos eucalíptos que namoram a mais alta eternidade.

 

Do cimo de suas copas aromáticas

colho os pinos do céu.

Cidade das rosas horárias

e das hélices do amanhecer

 

e das flores que nunca sucumbem

de sua cor energética

 

e que nunca desiste de ser.

 

Cidade das cigarras

que nos enlouquecem as oiças

 

com suas rascantes canções

 

e do mavioso de seus deslumbramentos

a olhos elevados.

 

 

 

 

Murilo Gun

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