Vital Corrêa de Araújo
O leitor de poemas neomodernos precisa saber que no texto literário (na linguagem poética), a palavra é sentida como palavra e
não meramente como substituto do objeto (ou coisa) nomeado, como normalmente se usa uma língua. É nessa confusão que o leitor derrapa e confunde estória com história, poesia com prosa métrica, narrativa rímica. Outro dislate é confundir poesia com explosão de emoções.
É essencial, então, distinguir a mensagem verbal artística (ou literária, no caso) de outros tipos de conduta linguística.
A poesia é linguagem em sua função estética, e não informativa ou prosaica. (Parafraseio Jakobson).
A poesia se caracteriza (se singulariza) pela ênfase (quase total) à forma (ou expressão) do enunciado (do conteúdo, da mensagem como se usa ao tratar da “missão humana” da poesia).
Jakobson, que, de início (1921), afirmava ser a poesia linguagem em sua função estética e sua marca ou propósito um enunciado visando à expressão, dirá (em 1953) que a função poética é a orientação da linguagem até a mensagem como tal, o que, em miúdos, significa que na linguagem literária o fator predominante (ou essencial) é a própria forma da mensagem (e não ela, a mensagem em si, como fundo, conteúdo – caso da prosa).
A palavra é considerada como palavra em si (e não como veículo ou mera transportadora do sentido) pois a linguagem poética privilegia a mensagem, como forma (e não conteúdo) como fim (e não como meio).
Os formalistas encaram a linguagem poética com uma gama de procedimentos estilísticos (e o que de artifício contemple neles, se funda, lavre), que visam desviar o discurso para a forma da mensagem. Somem-se a isso os efeitos do princípio construtivo de Tinianov e a ação da função da palavra doadora de poeticidade, de Jakobson.
Portanto, na linguagem poética, a palavra não funciona como substituta da coisa (objeto, sensação, disposição de espírito) nomeada (como ocorre na mensagem em que predomina a função referencial) nem atua como uma explosão de emoção (como acontece quando domina a função emotiva).
Em síntese, na linguagem poética, a palavra – mensagem – é sentida como palavra em si, forma mesma, por suas qualidades fônicas, semânticas, morfossintáticas, léxicas, como o afirma Pozuelo Yvancos (extraído da revista La Gaceta, da Editora mexicana Fundo de Cultura Econômico).
E é isso o que Jakobson diz quando dispara: a função da poesia é a orientação até a mensagem como tal.
NOTA: A esse respeito, finalidade da poesia, ou a propósito da sua capacidade comunicativa, é bom ouvir um mestre poeta, Manoel de Barros: “poeta que não aprendeu ainda a renunciar ao desejo de informar, ao desejo de narrar, ainda não está poeta”. E arremata: “Poeta não precisa informar sobre o mundo. Poeta precisa inventar outro mundo”.
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