Sou leitor de Jorge Guillén, desde 1980.
Seu livro Cântico (uma das dezenas de reedições) li numa noite – e reli, reli-o dez, vinte vezes.
Comprei Cântico e Diário de um poeta recém-casado (J. R. Jimenez), em São Paulo.
Os meus poemínimos, haicais, dísticos, tercetos em riste, aforismas, apotegmas, monósticos, epigramas vieram de Guillén. Ele influenciou Cabral e Drummond.
Aprendi de Guillén o fanatismo pelo nome, o adjetivo substantivante, a contenção exata, o metaforismo desenfreado, porém contido.
As epifanias joyceanas de Guillén são monstruosamente perfeitas.
Para ele, as palavras são o que são, não o que delas fazemos. O poema está feito no espírito, tal como Moisés estava perfeito (ou prefeito) dentro do bloco de Carrara.
Michelângelo apenas retirou o excesso e o extraiu. Toda aquela ginástica rítmica, digital e rímica, é tolice, desnecessária, que poeta elementar torna necessária, mesmo imprescindível.
Tendo o nome como essência da poesia (o verbo realmente criador), Guillén havia-se abstrato. Porém uma abstração sublimada pelo estro fecundo e em riste como é da tradição espanhola (Juan Ramon, Aleixandre, Salinas, Diego e Paz).
A poesia praticada por mim, Carlos Newton, Rogério Generoso, Admmauro Gommes (como exemplo não exaustivo ainda), contém grau elevado de generalidade e portanto abstração, o que a torna hermética e complexa. A propósito, o historiador e mestre Marcondes Calazans tachou a poesia absoluta de hipercomplexa.
O crítico Michael Hamburguer, cf. anotação minha, afirma, em relação a Guillén, que o teor abstracionismo da poesia moderna espanhola, francesa e italiana, poderia ser tomada como indicação de falta de consciência histórica (alienação política) ou, de certa indiferença para com o que esteja acontecendo no mundo, ao redor do poeta (ou por perto).
Não se trata disso, de dessitualo, fora do real, antissocial, apoliticado por isso, no entanto e pertinentemente, resolutamente carimba Hamburguer: “Só tem a ver com a própria linguagem e com os modos de pensar e de sentir do poeta, nada a ver com a disputa entre modernismo e tradicionalismo.” A propósito, Guillén nunca deixou de lado a escansão. Mas não era fanático.
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