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Qui, Abr

Sobre Poesia Absoluta
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Antônio Campos

O catedrático da Universidade Federal de Pernambuco, professor titular da disciplina Teoria da Literatura, Doutor em Letras pela Universidade de Quebec (Canadá), crítico literário e especialista em semiótica do texto, canadense naturalizado brasileiro, há 30 anos ensinando em Pernambuco e na Paraíba, Sébastien Joachim, é um scholar, um poliglota e erudito na acepção mais moderna do termo.

 

 

 

Detentor de rica experiência pedagógica e de vasto conhecimento de literatura, psicologia, psicanálise (Freud, Jung e Lacan), antropologia cultural, SJ goza intenso prestígio intelectual na França, no Canadá, Itália, Romênia e Portugal.

Os ensaios agora reunidos sobre o poeta Vital Corrêa de Araujo (que ele estuda há sete anos) servem de uma introdução crítica a uma poética singular, mesmo desconcertante, avançada, sobretudo crítica e metalingüística, ou subterraneamente lírica, como eu diria.

Segundo Vital, ele escreveu os 5 ensaios (um em francês no original) desde 2002, quando teve ciência do poema Só às Paredes Confesso, publicado numa antologia, antes de conhecer pessoalmente o autor. Convidado a participar de uma aula do Professor na UFPE, Vital entregou-lhe 5 poemas da série Narciso, tendo ele convertido em ensaio o poema Subnarcose, dedicado a romancista Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque (prima de Vital, sendo o pai de Cristina o político e médico Emídio Cavalcanti de Albuquerque, deputado estadual em 5 legislaturas e correligionário e amigo do meu avô, Miguel Arraes, egresso do velho e bom PSD).

A amizade se estreitou e Vital confiou ao velho mestre as inéditas coletâneas de Simulacro e Escuras, cujos originais SJ detém, posto que Vital Corrêa de Araújo perdeu-os num labirinto do computador.

Ao tomar conhecimento de 5 grandes ensaios sobre a obra de Vital Corrêa de Araujo e sentir a profundidade, a astúcia da abordagem, os métodos críticos e o alicerce bibliográfico, o espectro abrangido, o conhecimento revelado sobre um poeta contemporâneo, não titubeei e ofereci levar à estampa, pelas Edições Bagaço, sob o patrocínio do Instituto Maximiano Campos, pois tal empresa representa um investimento literário de monta. Editar um livro de Sébastien Joachim, com extensa obra dispersa em centenas de publicações universitárias mundo afora e quase inédito em autógrafos, é mesmo um privilégio. Com exceção da majestosa publicação César Leal, Poeta e Crítico de Poesia, que SJ organizou, precedido de um erudito ensaio-apresentação e publicado em 1994, com mais de 300 páginas, ele é pela primeira vez editado em Pernambuco, pelo IMC, livro que versa sobre o poeta pernambucano, atual presidente da UBE, premiado em 2007, pela Academia Pernambucana de Letras, o que constitui para nós duplo privilégio.

A poesia é mais que um alimento espiritual e um meio de comunicação estética e conhecimento. Em toda minha pesquisa sobre o objeto livro, seu presente, passado, futuro, encontro, como baliza, marco, incentivo para a caminhada e o destrinchamento, o brilho, a luz e o estímulo da poesia. Inclusive, a de meu pai.

Velar e desvelar pergaminhos que antigos escribas moldaram, neles instilando interrogações e verdades poéticas (como Goethe mostrou), submergir nos mundos da natureza e da cultura, em busca da essência humana, é um empreitada, em que a poesia sempre está presente, como guia e tábua. Saber que o hidrogênio vibra tanto nas estrelas distantes quanto na íris humana, sentir como Kant a beleza da vida encravada, tanto no céu noturno constelado, no firmamento cravejado de estrelas, quanto no mandamento do imperativo categórico, parte vital da formação jurídica, são conhecimentos poéticos. O mesmo, quanto a Pascal,  aterrorizado pela imensidade da vida e infinitude dos mundos.

Enfim, bebo também lautos goles de absoluto (como Hegel) ao sorver as taças fractálicas da poesia de Vital Corrêa de Araújo. Entonteço ao caminhar em suas áridas e férteis bordas verbais, e me deleito com a “Ars Combinatoria” da poesia de Vital Corrêa de Araujo. E o que leva a todos a visão profunda, a iluminação crítica do Prof Sébastien Joachim sobre tal poética, que é uma das mais marcantes de nosso tempo.

Tenho plena consciência, tanto como operador do direito, do valor da palavra, quanto, como escritor, do valor da poesia, como algo forte, agente, próximo à senda da natureza criada, quase como uma sobrenatureza que é reverberação do liber mundi. A concepção da poesia como o duplo da natureza – ou ela discursando – é mais válida ainda hoje, perante o debate ecológico, quando a questão da relação mundo/homem se põe com tal profundidade e precedência.

Sentir o tônus de uma poética avançada como a de Vital Corrêa de Araujo e saber que dele jorra temas e metas básicos ao século 21 e que esse jorro não é capturado ou engarrafado em formas rígidas.

Vital Corrêa de Araujo – como bem o demonstra Sébastien Joachim – explora magistralmente a especificidade da linguagem poética, conduz esse fundamento, esse alicerce ao mais alto possível de suas potencialidades, dá plasticidade à palavra poética e imprime tensão máxima à gramática, extorquindo dela recursos muito além também de suas possibilidades (dela, da gramática) – sua linguagem leva-nos muitas vezes a uma inacessível profundidade, conduz-nos, leitores, a um abismo de (in)compreensão.

Em suma, como diz o poeta inglês MacLeish: “Um poema deve ser / e não significar”.

 

Antônio Campos é acadêmico, escritor, ensaísta, pesquisador do livro como objeto cultural e presidente do Instituto Maximiano Campos.

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Murilo Gun

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