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Sex, Abr

Sobre Poesia Absoluta
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O poeta Vital Corrêa de Araújo publicou, pela editora Galo Branco (nome que homenageia Afonso Frederico Schimidt, título de um de seus livros), o livro "50 Poemas Escolhidos Pelo Autor", dentro de uma série editorial que contempla Mauro Salles, Elisa Lucinda, Antonio Olinto, Carlos Nejar, Lêdo lvo, entre outros.

Essa importante editora do Rio de Janeiro, sob direção de Waldir Ribeiro do Vai - que também edita a revista Poesia, homenageia com essa série a José Simeão Leal, criador dos Cadernos de Cultura, do MEC, na década de 50, que contemplava edições de livros com 50 poemas escolhidos, como o caso de Manuel Bandeira e Carlos Drummond.

 

 

A seleção de poemas abrange seis livros publicados (Título Provisório, Gide ou o Desejo, A Cimitarra e o Lume, Burocracia', Gesta Pernambucana e Coração de Areia), além de dois inéditos (Simulacro e Escuras) e poemas estampados em jornais e revistas.

Poemas, como "Só Às Paredes Confesso", que o professor Sébastien Joachim qualificou de megapoema, ao lado de outros como "Enterrem Meus Olhos no Amanhecer", "Rumor a Máscaras e Sub Narcose(que foi objeto de um ensaio-conferência apresentado no lU Congresso Brasileiro de Escritores) representam bem o que o autor entende por poesia, ou seja, a utilização da palavra em sua carga máxima, a palavra posta na página com alta densidade conotativa.

Conheço bem a poesia de Vital Corrêa e sei que ela se insere num contexto em que a imaginação prevalece sobre a razão, em que o sentido não é o objeto da escrita, mas o sintagma inesperado, em que a preocupação estética sobrepuja qualquer lógica ordinária ou meramente gramatical.

A poesia moderna do século 21 despreza regras, normas, acabamentos clássicos, filigranas, retoques, saias justas, manequins, fórmulas e fôrmas. É a poesia em liberdade, no sentido construído por Murilo Mendes, sem perder as características de sua plasticidade e carga metafórica de acento pessoal.

Encontro paralelo, mutatis mutandis, da poesia de VCA com a de Jorge de Lima.

O poeta expressou seu conceito de poesia no poema "O vinho da palavra chama-se metáfora / e sua embriaguez poesia". Com base nessa visão metafórica (poética) da realidade, ele escreveu Burocracial e Dura Habilidade de Herói, dos quais extraio os poemas Batalha Branca: “O burocrata perdido / nas engrenagens do organograma tomba / na guerra diárias dos despacho / entre litígios de forma / e hecatombes de tinta; e “o herói elabora / o cume e a queda / e ao cair / erige o abismo”.

Mais dois poemas pequenos resumem a poética do autor: Econômica: “Há vagas para máquinas / não há vagas para homens”. E seios: “Seios são rijos/deuses redondos/ para o culto / alpino do lábio / são rijos / deuses redondos / para o culto / alpino do lábio / são canções de carne / que mordem a boca / e encantam / a alma da mão”.

Destacam-se no livro de poemas escolhidos de Corrêa de Araújo aqueles dedicados a suas paixões, como o “Deo Gratia”, para sua mãe, Deográcia Cavalcanti de Albuquerque, o poema “Recife” (que o pintor João Câmara ilustrou), “Lorcar”, “Murilo Enegeômetra Mendes Polipoeta”, “Poema a uma Catedral” (dedicado a Dom Hélder) e “Para a Claridade da Fuga”, aos 80 anos de César Leal.

Em resumo, trata-se de uma poética singular, em que o verbo é vazado, pela imaginação, em que a realidade é transfigurada pelo sonho, pelo sonho das palavras, pela espessura adverbial do mundo, pela tessitura catártica do ser. Em que a palavra é colocada no pódio sagrado da poesia, de onde descortina a imaginação triunfante.

Em ensaio sobre o livro inédito Simulacro (objeto de encenação pelo SESC – Santo Amaro), o mestre Sébastien Joachim diz: “Na fábrica metafórica do poeta não causa espanto ver-se lado a lado palavras deslignando objetos reputados neutros ou banais. Se separadas, isoladas, não significam algo semanticamente novo, mas juntas, sintagmaticamente relacionadas, se convertem em expressões do sublime”. Completa o literator: A intenção de Vital é derrubar o significado.

O livro em tela foi dedicado a uma única pessoa: a Ivonilde, esposa de poeta, o que é muito louvável, porque a mulher deve sempre ser tema e finalidade da poesia. E o amor e a mulher, desde Homero, estão siamesamente unidos, na construção do poema, se o objetivo for o sublime;

Em síntese, externo minha visão poética de que é preciso construir o texto dentro de idéias específicas e inovadoramente construtivas.

É imprescindível demolir o paradigma vigente, em que ainda reina o anacronismo deletério – como todos – da sobrevivência indesculpável do parnasianismo, que sufocou o simbolismo e desencaminhou o avanço do modernismo da geração 45, desencaminhando-a em direção a um neoparnasianismo retrógrado.

E não informar ao leitor o imediatamente compreendido na construção lógica do texto.

 

 

 

Victor Carres

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Murilo Gun

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