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Dom, Maio

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VCA

                 A poesia coisifica e humaniza. Liberta. É a potência da vontade da palavra em liberdade. Rilke, Sartre, Jakobson têm a poesia como coisa.

E não mensagem. Mero papel de contrato ou recado, tipo bilhete romântico ou aplauso. A ela só interessa o lado sensível, palpável do signo linguístico: o significante. Com eles se faz (cria) poesia (criadora). A poesia não é meio nem mensagem. É fim. Em si mesma. No poema. Que é ser da linguagem.

                A questão de estarmos, em poesia, ancorados arduamente no século XIX é grave, além de idiota. É que, nós, poetas, deixamos de ler poesia, de haver sua crítica, de refletir sobre a teoria e evolução da poesia. Com exceção apenas dos professores e graduandos da FAMASUL. Nos contentamos só nos tratados de versificação. A eles dedicamos o esforço crítico e a fadiga do conhecimento.

                Esquecem que Hegel disse, a propósito da modernidade, que a reflexão sobre a arte (literária, poética, in situ) é mais importante do que a própria arte.

                Desde McLuhan (A galáxia de Gutenberg), a fluidez linear e inocente do rio da palavra (ou a água do tempo heraclitiano) pelas estações obrigatórias e tradicionais de começo-meio-fim cessou. Substituiu-a a da corrente da simultaneidade. Tudo ao mesmo tempo. O fim antes do começo, o meio no fim. E assim por diante (ou atrás). A poesia que faço, coloco na página, conformo o poema, não tem nada de começo. Nem precisa terminar. É inacabada. Fragmentária. In ou descontínua, assimétrica... e turbina as imaginações do poeta-escritor e do poeta-leitor. Se tem começo-meio-fim não é nessa ordem.

                Por vária razão, a que me nego repetir, o poeta médio brasileiro está apegado – e o tem como verdade, tradição e atualidade, às formas, modelos, usos, métodos, maneiras e costumes (poéticos formais e temáticos) do século XIX.

                Querem o controle do verso. Rima cá, rica, lá média, um tristonho aqui para rimar com sonho (palavra tão bela e expressiva de difícil rima). Conta sílaba gota a gota fônica, calcula, trena, ábaco, dígito em ato, começa a história, narração, descrição, tema e vai, vai... chega ao meio e pula para os finalmentes. Está dita a poesia... O poema completo – sem pé quebrado, de pé. E salvo. Daqueles que o ficam medindo, fita, metro, ábaco em riste. Para aprová-lo, e dizer grande poema.

                Nada disso mais existe. Coitados! Tadinhos. Imersos em seu sono (sonho) dogmático. Atrasado 130 anos.

                Se a informação se move à velocidade da luz: fax,e-mail, etc. Se a simultaneidade é geral. Por que embarcamos na sucessão lenta, antiquado. Boi na frente do carro. Rima é poesia. Poema?s da famosa FAMASUL tá fazendo Cadê a rima? Tudo com comecinho, meioinho, finzinho. Poeminho. Meuuinhoa. Para vocezinha, leitorazinha esperada.

                Reajamos. Como o pessoal de letras!

Murilo Gun

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