Quando, onde, por quê te escrevo
leitora avulsa pré-hipócrita
o quando em que te procuro os olhos
o onde não estive por ti
o porquê te amo, te domo
não direi porque não te invento
mas sei o quanto dura um poema: nada.
O custo (para olhos e ouvidos da mente) é outra coisa.
Sem mais rodeios, ou quiproquós
te escrevo numa pausa de chuva vestal
antes que chegue o hemistíquio fatal te escrevo
num instante rubro e impenitente do mundo
antes que apodreça urdume do verbo
depois do pó do balaústre (sem trema)
e das beiras indecorosas dos umbrais urbanos
caindo de quatro nos prédios vencidos
da vida e do nome (que poema aviva)
Perante brilho residual de qualquer estrela
entre promontório
e vertigem te escrevo
leitora de minhas desilusões amaras
promotora de elipses, ser
para quem tudo é desalento ao me ler
é para ti que escrevo, que me sinto muito
contrito ante a página em branco (ou cadeira ocre)
e entre sílabas sonâmbulas busco teu nome ou vulto
véu e aparato sonâmbulos de sílabas
entre uma ou outra vírgula veloz ou lenta lanço
para teu enlevo ou desgosto
para teu consumo ou desprezo
meu coração escrito.