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Qui, Abr

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Quando, onde, por quê te escrevo

leitora avulsa pré-hipócrita

o quando em que te procuro os olhos

o onde não estive por ti

o porquê te amo, te domo

não direi porque não te invento

mas sei o quanto dura um poema: nada.

O custo (para olhos e ouvidos da mente) é outra coisa.

 

Sem mais rodeios, ou quiproquós

te escrevo numa pausa de chuva vestal

antes que chegue o hemistíquio fatal te escrevo

num instante rubro e impenitente do mundo

antes que apodreça urdume do verbo

depois do pó do balaústre (sem trema)

e das beiras indecorosas dos umbrais urbanos

caindo de quatro nos prédios vencidos

da vida e do nome (que poema aviva)

 

Perante brilho residual de qualquer estrela

entre promontório

                        e vertigem te escrevo

leitora de minhas desilusões amaras

promotora de elipses, ser

para quem tudo é desalento ao me ler

é para ti que escrevo, que me sinto muito

contrito ante a página em branco (ou cadeira ocre)

e entre sílabas sonâmbulas busco teu nome ou vulto

véu e aparato sonâmbulos de sílabas

entre uma ou outra vírgula veloz ou lenta lanço

para teu enlevo ou desgosto

para teu consumo ou desprezo

meu coração escrito.

 

 

Murilo Gun

 
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