Estes ditames são férteis
de sincero chamamento
à consciência vital
(porque não sensibilidade nova)
que permeia terceiro milênio iniciando
(que ativa tal rito)
previnem a peste
da poesia passada
mácula inoculada na alma
firme rebutalho, coisa
atendem poetas que rastejam
arrependidos de Hermes
buscando explicar cada página - imagem
esclarecer, explicitar poema
qualquer dúvida ou reflexão eliminar
para facilitar a leitor vão
crassa leitura.
Amém!
Estes aqueles que apenas mente
bordejaram inseguros trêmula
verdade poética, poço da vertigem verbal
o fizeram porque
(num paraíso inverso – em verso?)
alcançaram inferno artificial
da dadivosa dúvida
ser ou não ser moderno.
Renderam-se à inebriedade total
ao involuptuoso, invertiginoso estéril
ao mais fácil (e mais popular talvez)
devorados pela sinceridade sóbria
esfinge do parnaso
medusa cujas outras cabeças
é verso de favas contadas
rima dicionarizada.
Renderam-se à redenção da rotina
(éden tedioso, sopro de náusea)
não à vertigem da aventura da palavra
pelas inéditas paragens do papel e da alma
pelos crus brancos das páginas
da veia do verbo, viver verbal
do tempo d’agora primal
incursão do espírito
pela palavra verdadeira
(poética neoposmoderna)
tão válida e forte quanto a religiosa).
Poetas teimam no ahermetismo fanático
primam facilitar leitor
mastigando o verbo
com intuito probo (mas idiota)
para plena absoluta
digestão de leitor facilitar
declinaram da embriaguez intelectual
movida a uva, papoula e cânhamo
espirituais
amesquinharam-se apenas
negando a si e a outro
êxtase que verbo permita, conceda
renunciaram somente
a ser um baudelaire mergulhado
no vinho do verbo
no ópio completo da palavra
no inteiro haxixe da imaginação.