Pretos cabelos (estrelas de negro cálcio)
como noite etíope
longas tranças
cintura síria
mãos de minuciosa uva
dedos de lasciva areia
fronte de celeste ameixa.
Sobrancelha de penumbra íntima
cílios loucos
olhos linces
de um azul vagaroso
como céu anil
seio de macio mamilo
e cimo ereto (areolado do meu beijo)
em que impudendo perfume rasteja.
Pés de gazela
cisne redondo
do alto sapato
baleando a mim
lábio de ave alísea
ombro de lã, axila
de renda portuguesa
torso ébrio
barriga diva
umbigo vinho
virilha lusa
ventre de abril.
Fêmea que é loba
leito de minha saliva toda.
Arcas cheias de glútea beleza
como chuva vertiginosa ou ribeira
os sais do sêmen
pululando loucos
vulva saliente
como pecado
clítor faminto
de rócio e lábio
divo púbis imerso
nos grandes lagos
mississipis de is sedosos
da mão derramados (leites amados)
dos lúbricos dedos escorrendo
como unguento de delírio
ou lagoa de lascívia insuperável.
Boca que morde
glande do carvalho
olhar que é
fonte de doce orvalho
pele de cheiro
pote de gala
lata de dádiva
alma de luva
fenda escarlate
macia como maçã
coxa de êxtase
sítio que acalma
brecha perfumada (que perfuro e bebo)
entranha intrigante
mordida de piranha suassuna
água de gruta, cisterna
de unguentos tímidos olorosos
cio de égua dissoluta
lento como papoula
sensível como piano
açude límpido (e espesso)
jasmim claro e fêmeo
poema mulher
de que traço tersas linhas para
volúpia inteira da página
e benta loucura do poeta.
Sítio Borrego (Garanhuns) 06/04/2012.