(O FOGO DO LAR É A PALAVRA)
Entre o que estagne
e o que flua: o poema
entre o que rasteje
e o que revoe: a palavra
entre o transitório e o contingente
o que permanece apodrece
entre o que não cessa
e sempre muda: a poesia.
A morada da palavra é o ser
a residência do poeta: o poema.
Cavalos em demanda do sigilo
contêineres de selo
a sonhar com saliva
homens que buscam a derrota
ávidos de ser menos que a vida
poetas presa da armadilha do ego
da catraca da gramática devotos
e domésticos do sensível
e tantas belas e empreendedoras
pessoas (de bom grado e melhor medida)
de cálice, lança, espada e lápide munidos
fugindo da terra desolada da alma
para uma praia ou um shopping
estéril mas festivo.
Branco sono que orvalho instila
quando lança na relva
pérolas de brilho
arredondadas luzes líquidas
manhãs que pássaros acalentam
(ou mesmo inventam)
eis os itens de meu cordial testamento
a verdade mais inocente.