Vital Corrêa de Araújo
Para herméticos amadores
ainda em busca de redenção parnasiana
(desse céu vencido, apagado, extinto, ultrapassado
que continua malgrado jorros a lançar
exaustos de artificiais luzes, clarões maculados
a olhos e almas do século 21)
invencíveis escrutinadores (fanáticos)
do paraíso febril perdido
do lirismo superado à Bilac
incansáveis artesãos austeros
fervorosos ferreiros de treva e rima
(escopo e pua sem ventre ou data) ídolos
de que são possuídos como tábuas de salvação
do crispado mar da imagem moderna
que os afaga mas devora
sacrificam poesia verdadeira
no falso altar em que pregam
culto da precisão (enganadora)
e beleza vazia (simulação do verbo passado)
porque inteligíveis hordas
de legíveis palavras prosaicas
a modo de verso arranjadas
a esses probos e porosos coitados
migalha ofereço
constrangido mas ousado
dessas palavras aqui umbralizadas.
Isto é, devoto-as
estas salinas e verazes palavras
para tantos quantos aqueles
que se depararam com imbróglio tal
óbice tormentoso vital obstáculo
a tentarem falópica e total
penetração no abismo da vagina verbal vertiginosa
palavra viva estuante
da posneomodernidade poética
(antro e útero da ávida visitação da palavra)
ou seja, para probos coitados ainda
que não puderam acessar
inteiro âmago de Hermes
pela via do ariádico fio da vertigem verbal
viagem ao centro do imo poético do mundo
adendo estas palavras proemionais
prenunciadoras do que virá
preventivas do real porvir .