O poeta é um homem comum
operário fatigado do verbo
cidadão bem ou mal remunerado
patriota ou (e) apátrida
mísero mártir da imaginação, perdulário
porque muito abstrato, pendurado sempre
no crediário da palavra. Abominável menino.
Todo poeta tem ilusões de aço.
E crê em certo futuro incerto.
Sempre no rumo ermo acredita
no futuro das incertezas.
Poeta é um seguidor do futuro livre.
(De escolas do passado. E abrolhos presentes.
Que pensa em escrever amanhã
o Livro do ânus gradual.
Incêndios algébricos de cavalos, torreões, bispados.
Fogo ageométrico que irrompe puramente
dos cômodos losangos, lambe catetos
propaga-se das hipotenusas cinzas dos vértices.
Lumes equiláteros, línguas febris de víboras extáticas.
Tetraedros se alastrando até a total e justa
cremação dos ângulos agudos.
Até a incineração cúbica das hipóteses.
Até o grau de gusa dos teoremas eternos. ( à Pasoline)
Clamor escuro se esgueira
feito fogueira
desde os esôfagos da palavra até
(ou da palavra depois)
os invernos da alma.