Sou um escritor mas sou também xamã.
O que digo não se escreve. A respeito de minha
arte oculta sou vago às vezes. Outras espesso.
Ou seja: me decifro, me desnudo. Me ubíquo
.
Como coivara me devasto e alimento. Me espaço
como ar solto do páramo.
O verbo tem forma de esfinge.
O verdadeiro, o que vem da Vinha Pura
perfeita vide poema não alcança.
Nasci do Nordeste do Brasil mas minha estirpe
se desdobra desde a Grécia órfica, desde
África madre, desde mares nus da hiperbórica região.
Onde a palavra clama por amplidão.
Hiperbórico é o ímpeto que singra em meu sangue.
Sangue que foi mediterrâneo, luso
agora brasileiro (mas nas ribeiras do Eufrates
buscou um dia fluente abrigo).
Ao negro cais de Caronte irás um dia
das águas de livor do Averno beberás
(pois o Aqueronte vital não te esquecerá).