03
Seg, Nov

destaques
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Xenócrates curava com música

mordeduras de cães danados. 

Demônios temem harmonias.

 

Música fere tarântulas de Apúlia.

 

Dor é antídoto.

 

Bálsamo cura aridez.

 

À funerária redundância do veneno.

 

Asclepíades receitava com precisão

melodias aos frenéticos

e sais harmoniosos aos desesperados.

 

Aos indóceis de sempre, poção de cor amara

e doses de tristeza três vezes ao dia.

 

Aos eufóricos, dois gramas de urina morna.

 

Hipócrates curava com minúcia

e coentro esmagado à loucura.

 

Moendo a moenda do afeto até

todo o amor ficar miúdo.

 

Após aviar o receituário da tarde

Hipócrates urinava na antessala

perto da anestesia.

 

Nenúfar: refém do olhar.

 

Haste de luz, achas de som.

 

Vozes de madeira acalmam o espírito.

 

São Luís chupava furúnculos

de escrofulosos franceses

e engolia o pus para curá-los.

 

Engordo porcos diabéticos com ágil melaço.

 

Ao êxtase gótico dos anjos das igrejas barrocas.

 

É congênita precisão do míssil.

 

Touro demole bandarilhas da tarde

e abre cortejo de sangue na areia.

 

De lástima a pele dos pusilânimes

é de lástima também tua alma, hipócrita leitora.

 

Em poesia, nada é evidente.

(Cartesianamente desconsiderando).

 

Tanques chineses para lavagens cerebrais brasileiras.

 

Fornos crematórios movidos a asas de borboletas.

 

Rebenta súbito vinho dos velhos odres, lábios afora.

 

Culinária do desespero. Infortúnio

prato mais saboroso e detestável.

Murilo Gun

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