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Dom, Jun

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A FALSA ARTE onera nosso tempo e é próspera, nutre as massas (ignaras, perecíveis), sequestra os espíritos alienando-os, reificando-os, e oferece máscaras, ossos, atrativos exteriores, expedientes que instrumentalizam a alma para o nada, graças à profundidade superficial (aparência de essência, vulgaridade absoluta) de que  si reveste o aparato estrepitoso e festivo e espetacularizado dirigido às pessoas movidas pelas mídias deseducadoras a que estão expostas.

A falsificação da arte “hic et nunc” leva as pessoas à irreflexão ou o cogito à flor da pele, ao conhecimento exterior manipulado. O fenômeno artístico, dotado de vital necessidade, imperioso, é satisfeito por eventos folclóricos de diversão (diversionista), tipo São João, Carnaval, réveillon, domingueiras e pascalinas “ressurreições” e tais, além de músicas mecânicas, e cada vez mais superficiais e impostas como gosto dominante autêntico. Como o ciclo infeliz, viciado, massacrante da verdadeira cultura musical brasileira, que é o da peste da música “sertaneja”, ebola em forma auditiva, que trucida dia a dia, hora a hora, a nossa autêntica canção, à custa de render milhões (música pecuniária, fundamentalista, como a teologia da prosperidade).

 

A propósito, o crítico carioca Homem de Melo, recentemente disparou: o Brasil produz a melhor música do mundo e ouve a pior.

(Até que a fatalidade – o fati – tem buscado certo equilíbrio).

Outra forma de alienação perversa da juventude (e infâncias) brasileira é a mídia virtual, irrealista, que gera distorções como é o caso dos “Zumbis do Facebook, que aprimora a descomunicação social, em prol do ato individual de comunicar-se consigo mesmo (em que o mesmo é o outro, mera artificialidade inclusiva).

Em síntese, a arte de artifício, a arte fácil, a falsa arte, todo esse aparato em ato, toda essa ação potencial realizando­-se nada mais é do que instrumento da ideologia atuando pesadamente para “suprimir as faculdades críticas da massa” ignara (entre as quais a nata – dissoluta – da classe média).

Projetado no campo da literatura (e poética), a supressão da faculdade crítica do leitor, para facilitação do entendimento do texto (poético, em especial) é uma estratégia e um instrumento em ação e em aperfeiçoamento no Brasil.

A postura ideológica agente faz do poema (da poesia) instrumento de divertimento e entretenimento. Dai a necessária face imediatiste e facilmente deglutível do material literário - desde os livros de literatura infanto-juvenil impostos e desqualificadores - cuja falsa harmonia e qualidade pedagógica reforçam o ritmo de produção industrial de poemas fáceis, sonetísticos com receituário e manuais de fabricação e montagem. Quando a arte poética absoluta (não relativa a convenções e padronizações entretenimentais) recusa de modo absoluto tais estereótipos, que objetivam entorpecer a criatividade, congelar ou coagular a capacidade de discriminação, depuração e entendimento real e livre da verdadeira arte (em geral). Todo esse clamor divertido pela felicidade de um concerto sertanejo ou pela fácil absorção de um poema sentimental é parte da mecânica alienante que nos domina, desde 1964, e munição para o processo de reificação do ser  brasileiro. Em processo, em progressão ordenadamente. Infelizmente.

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Murilo Gun

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