Praticamente, o movimento (movediço e radical, na acepção positiva do termo) Poesia Absoluta nasceu com o livro Título provisório, publicado em Natal-RN em 1979, aquinhoado com o mais importante prêmio literário do Rio Grande do Norte.
É um movimento radical porque socava as bases da poética vigente enraizada em Bilac e Machado.
É um movimento desconstrutivista (cf. Admmauro Gommes, Marcondes Calazans et cia, no livro editado pela Bagaço, A estranha poesia de VCA) e objetiva derruir o sistema de pensamento poético vigente há mais de 100 anos, no Brasil, a partir da velhice do pai eterno (de Junqueiro) do Parnaso brasileiro, cuja idiosidade tem sido mortal à pretensão do Nobel.
A poesia de VCA, Admmauro Gommes, Rogério Generoso, entre poucas, representa uma descomunal operação de desconstrução da ordem poética brasileira, cujo estabelecimento dura 100 anos ou mais. É toda uma tradição poética deletéria, reacionária, falsa, imposta... e que seguia imperturbável até a onda montante da poesia absoluta ou neoposmoderna. De certo modo, a incomunicção absoluta rege tal nova poética absoluta, isto é, nada relativa ou relativo a nada. Esta nova “modalidade de rima” rechaça leitor fácil e contraria comodidades. Ela veio para o pleno desconforto do leitor. É como alguém disse: “Ler VCA causa AVC”.
Ver a fissura crescer é nada fazer para o desate, o desmonte do neoparnasianismo infecundo.
Uma completa aspereza expressiva inunda a poesia absoluta, absolutamente. Um fator vital dela é a inusualidade do emprego da palavra, em combinações dotadas de notável não sense.
Os poetas absolutos rechaçam a poesia como fruto de técnica versificatória, como produto rítmico quantitativo (rima e métrica obrigatórias, “se não, não é poema”). Abaixo toda a preceptiva literária. E escolas transitórias servas da ordem poética centenária. Viva a desarticulação expressiva e a sintaxe usada sem medo viva mais. Toda ruptura com a sonância burguesa, afável ao cego ouvido mercantil.
O movimento da poesia absoluta não decorre nem se instaurou com base num certo afã de experimentação formal, porém está bem fundado numa adequação do verbo a uma visão humana (e não comercial) do mundo. A palavra como parto do todo.
Não se trata de uma poesia nova, mas de uma poesia que devia ser... e não foi. Tipo sapo de Bandeira. A dificuldade de sua assimilação é um fato e se deve à sensibilidade defeituosa do brasileiro, que só pensa em rima – “se não tiver rima, não é poesia”. Urge preparar – com mudanças dos currículos – as pessoas para recepção da poesia neoposmoderna. E inaugurar a possibilidade de uma nova visão (ou visagem) do mundo (velho).
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