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Dom, Jun

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A relação entre a nordestinidade e o universal em Odmar Braga, pelo fato dele encarnar a cultura hebraica originária, em sua perspectiva ou casta hispânica

(na acepção enóloga) marrana, e, sobretudo, para refletir (internalizar) ou visualizar essa condição sob a luz dum lirismo desatado, próprio de um vate exacerbado (e puro), singulariza-o; em Pernambuco e arredores (sertão a dentro), afigurando-se um caso único, exemplar, o que o responsabiliza mais ainda e nos agracia com esse singular poema Rekodro de mis rekodros.

 

Se dermos ao poema a dimensão que Pound preconiza: A literatura é função determinante do grau de civilização atingido por um povo, uma época; se a literatura de uma nação entra em declínio, abeira o ocaso, a cultura se atrofia e decai. Para Pound, necessariamente, o mau poema (ou toda uma época que o corteja) degrada a linguagem e a linguagem degradada provoca a decadência da sociedade (medida não em quantidade material mas em qualidade de vida). Odmar Braga, em sua ação poética, contrapõe-se a isso, eleva o Ladino, renova a linguagem, atualiza seu potencial, moderniza-o destarte, craveja-o de lirismo superior (com sua poesia melhor) e assim releva e faz avultar a civilização, imprimindo o selo de sua autenticidade, o ritmo de sua beleza ladina a todas as línguas co-irmãs. Eis a contribuição maior deste poeta que leio e me enleia.

É uma poesia alegre que celebra, a de Odmar.

Como Rimbaud lançando o terrível alarido do seu silêncio, nas plagas da África, OB, no lombo do Nordeste do Brasil, eleva o clamor pétreo de sua palavra e vara os céus da omissão, ilumina caminhos por virem.

À fecundidade de seu estro, habitado de símbolos, metáforas, símiles, formas estritamente poéticas, aplica-se o dito de Valéry: o poeta que multiplica as figuras não faz senão reproduzir a linguagem em estado nascente.

As imagens da poesia moderna são um milagre da linguagem, desde Lautréamont: “beleza é o encontro fortuito de um guarda-chuva e uma máquina de costura”, até Eliot: “enquanto o poente no céu se estende como um paciente anestesiado sobre a mesa”.

E o poder imagético de OB aberto nas plaga intrincadas da escritura poética faz jus a essa tradição honrosa.

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Murilo Gun

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