EXPLICAÇÃO VITAL
Quando mestre Sábastien Joachim decretou que a minha intenção é derrubar o significado não quis dizer que desvalorizo
(ou desprezo, rechaço, creio insignificante) um dos aspectos do signo, o referente, o conceito.
Não que eu seja preconceituoso com conteúdos (o que seria ideologicamente incorreto).
Apenas tento relevá-lo e assim revelá-lo (o significado) além do próprio nariz e umbigo, botões, is etecetera. Desviá-lo do óbvio, extrair dele mais do que ulule. Evitar significados ordinários, estabelecidos, expectáveis, prosaicos em demasia superficiais, óbvios, repetitivos.
É que creio e assumo, desde Mallarmé, que poemas são feitos com significantes (formas) e não com conteúdos (lição, moral, recado, algo bem dizível, direto, em suma , mensagens), nem buscam palavras que a eles se adequem, com precisão o relevem. Tá errado. Não vai dar bom/poema. É o carro na frente dos bois. Se isso fosse verdade (poema como um meio de amontoar palavras para revestir um significado, apenas revestimento ideológico), poder-se-ia de um mesmo poema mudar as palavras e manter o mesmo recado. Ou seja, traduzi-lo, transvesti-lo de outras palavras, desde que o centro (a essência, o núcleo, cerne) do poema fosse a ideia. O poema em si seria algo mutável, meio, vário.
Costuma-se dizer que o poema é um objeto de palavras. De vocábulos belos, de sons que são sensações, pletora de significados, arranjo morfossemânticossintático e musical exato. Em suma, algo de múltiplo conteúdo e caos polissêmico, forma que explora o conteudístico da língua, que enrija o fundo, de forma que voe o significado e o significante fique.
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