A marca (função ou caráter) da poesia moderna é reconhecer que quem fala – quando não se omite ou mascara , é a linguagem,
verdadeira musa ou rainha, de quem somos (escritores) meros servos, servidores efêmeros objetos, instrumentos, adeptos em decúbito total.
Não que a linguagem imita ou ecoe a estrutura das coisas, em relação ou para com os homens, mas que sem ela (isto é, sua complacência e volúpia) não há rigorosamente falando (salvação) qualquer possibilidade criadora primária subjacente ao humano, intraespírito. Que ela é algo inerente à imaginação, própria da percepção humana ou do complexo que dá sentido às coisas (do mundo, de si, do outro, do ser, do sendo).
O escritor é um reflexo da linguagem.
Como o mundo e o ser no mundo.
Palavra na medida do mundo.
Mundo medido pela palavra.
A estrutura (ou o homem) é o mundo mais a linguagem (que a realiza, no sentido hegeliano de processo – ser, não ser, novo ser. Ou seja, a linguagem repassa e impregna(se) (de) tudo, e o homem é dela (síntese) anunciador, além de reflexo. Daí, ela valer-se de nós (coitados) escritores. Para realizar suas fantasias, experiências com o real, demonstrações de poder imaginário. Sobretudo, acumpliciada com a imaginação, torna-se poesia.
A modernidade literária abole, na sua visão revolucionária da linguagem (operativa da imanência ou absolutidade do verbo, antes apenas relativo veículo da transcendência), a função (cansada) de representação fiel – e mesmo com nível mascarado de fidelidade, e desvaloriza o objeto de comunicação ordinária (inclusive científica), relevando-a a instância de produção de sentido, tendo como resultado geral (ou finalidade não teológica) a instituição de uma realidade intersubjetiva concreta, de utilidade humana (_as vezes, duvidosa).
Nesse contexto, o eu (natural ou lírico-sentimental) do poeta é o que há de mais superficial possível, mesmo rasteiro, terrestre, só pele, não alma.
Ouvimos a linguagem e ela nos ouve. Houve alma há linguagem. E dela vivemos, da carne e do osso da palavra.
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