Cláudio Veras
Há no verso de VCA o que chamamos de qualidade sônica, crótalo de aliterações, nós de sino, música consonantal.
Boileau dizia que o verso perfeito não pode agradar o espírito quando ofende o ouvido (que detesta ruídos sem sentido e tons de metrônomo), o que reverbera em Verlaine: “De la musique avant toute la chose”. Na poesia, “a música antes de mais nada” (ou antes de tudo ou de qualquer coisa).
Portanto, a palavra possui, além de seu conteúdo semântico, um fundo sônico (face conceitual e sonora, como boa moeda de palavra). Não somente é signo verbal, retrato de uma qualidade, móvel de uma ação mas também fonema (hesitação entre som e sentido, conforme Valéry).
Cemitério marinho de Valéry é um dos melhores exemplos do verso característico do poeta de Charmes, em que o som é quase mais importante que o sentido.
Em Vital, flagra-se uma utilização igualmente audaciosa de aliteração e assonância que imprime sentido (fônico e não meramente semântico) ao verso.
A musicalidade poemática (sentido e melodia da palavra), em VCA, é escandalosa, o próprio César Leal flagrou-a num ensaio a respeito.
PS.
A musicalidade na poesia é um legado vital do simbolismo. Foi movido por esse desiderato de alcançar fluidez musical (verbal, ímpar) que a poesia simbolista se recusou a submeter-se passivamente a obrigações métricas eternas, autoritariamente impostas, a convenções rígidas. É o que Moréas classificou de quebra das cadeias cruéis da versificação.
Então, o simbolismo foi a manifestação do desejo pelos poetas de recuperar da música o que realmente lhes pertencia.
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