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Dom, Jun

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À poesia – na acepção original do poeta atiçado pela imaginação, e não mera inspiração físico-romântica - compete a sensação do sobrenatural místico, órfico, em que está presente o êxtase da palavra, independente de regras anacrônicas que visam anular o imaginário, podar a qualidade, pela preponderância da quantidade (métrica, rima, ritmo de metrônomo e outras velharias).

A poesia a esse nível provoca, além da purgação (catarse aristotélica), o recrudescimento da atenção mental, com eliminação de letargos e outras inapetências do espírito.

Na poesia absoluta, o poeta é arrastado pela vertigem da palavra, via sensação do invisível, em forma da verdade do ser, que se assemelha à atitude religiosa, porém é algo do campo estético.

Keats, um dos maiores poetas ingleses, numa página imortal, indicou como é a percepção poética, estando o espírito do leitor possuído pela beleza da palavra humana. Keats ensaiava passar uma flor pelos suaves lábios, ouvir o rumor branco do vento e sentir a música vinda do interior da rosa para a papila poética.

É tudo uma questão de unidade do ser com a palavra.

Algo vital em poesia absoluta é que se abre no meio da lauda e tremula, como pétala de rosa ao vento, o esplendor dos arquétipos que possuem a palavra, com todo o seu pudor de verbo originário. Daí, o teor de demiurgia do poema absoluto. Daí o estremecimento que atravessa a palavra poética.

Isso tudo, porque a poesia nasce da possessão da palavra que enlouquece a imaginação. Também porque – conforme Keats (a quem leio há mais de 30 anos) – a poesia atiça inquietudes inexpressáveis e plurais do ID.

 

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Murilo Gun

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