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Em 2004, durante minha 1ª presidência na UBE, realizei o 1° Bloomsday do Norte/Nordeste – a que dei sequência com sucesso, repercutindo em São Paulo, tendo recebido até telefonema de Haroldo de Campos, que criou evento no Brasil (em São Paulo, há mais de 20 anos.
A cada ano, na data de 16 de junho, o mundo comemora, desde 1960, através de milhares de eventos, o dia de Leopoldo Bloom, personagem principal, alter ego e Odisseu, do romance Ulysses, de James Joyce. É o Bloomsday.
No dia, 16/06/2004, havia um motivo maior para comemorar o centenário de uma data, de um dia, o 16/06/1904, que, por sua vez, é um personagem, uma ficção temporal criada por Joyce. Mas também é uma data afetiva: foi o dia, a tarde, em que Joyce passeou pelas ruas de Dublin, com a namorada, com quem haveria de se casar. E a bela Nora Barcley masturbou-o afetuosamente, numa praça de Dublin. Onanizou o belo jovem Joyce, aturdindo-o tão completamente que desse gozo público gerou-se o feto do maior romance do século XX.
As alentadas, magnificas e substantivas 853 páginas , enfocando a peripécia e a odisseia em terra, no solo de Dublin, de Bloom, decorreram durante 18 horas (o capítulos) do dia 16/06/1904 e representam uma cruenta e crucial, uma estranha e maravilhosa navegação no mar da terra e da cultura irlandesa, via um dos mais fantásticos e fascinantes enredos em torno de um dia na vida de um homem comum!
Várias correntes, grupos e círculos psicanalísticos do Recife, como Interseção Psicanalítica do Brasil, estudam e analisam sistematicamente as obras de Joyce: Finnegan’s Wake, Ulysses, Dublinenses, e se reuniam à UBE, nessa empresa cultural que nos colocou ao mesmo nível de centenas de cidades, que o fazem, em todo o mundo, a cada 16 de junho.
Também, foi organizada exposição denominada o Cantinho do Artista Quando Hoje, com fotos e objetos, além de referências a Joyce. E foi servido, rins de boi, e porco assados, um dos pratos de Ulysses.
E que melhor (e mesmo mais gozosa) razão, que esplêndida (e gostosa) motivação teria um homem comum qualquer para escrever o romance (que se tornaria – quem sabe? – o melhor discurso ficcional do todo o século XX, praticamente a historia de um ID. Que fruto da onanismática perfeito.
O curioso é que um jornal confundiu a motivação das datas e considerou o dia 16.06.2004, como o centenário de Ulysses (da 1ª edição do romance)... e não o era, porém era o centenário de uma data, do dia em que Joyce alocou ficcionalmente a história, o enredo do seu singular até hoje romance. Que toda história de ficção (romance, conto, novela etc) tem sua locação em uma época dada (escolhida, onde se movem temporalmente os personagens e o discurso). E teimaram em considerar (numa situação que era ambígua: centenário de uma data ficta) e não e da edição de Ulysses.
Tive de explicá-lo, desmanchar essa bela e crônica confusão, que a Borges muito agradaria. E a Joyce também. Falei (não me lembro em qual BLOOMSDAY DA UBE) sobre um tema que bem dominava, a chamada BLOOMÍADA, os capítulos 4,5 e 6 do romance (as 9, 10 e 11da manhã em que passa o enredo de Ulysses).
O centenário da edição de Ulysses será em 2022, e o da morte de Joyce, em 2041.{jcomments on}