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Por Vital Corrêa de Araújo

QUEM?

Admmauro Gommes, em 2015, completa 50 anos de existência, metade da qual viveu magistralmente vocacionado que foi do melhor magistério superior, o que é bem distinguível, numa nação que aspira por educação e que pode ser agora a Pátria Educadora.

 

 

AG publicou cerca de 30 livros, exerceu, além do magistério, como professor universitário (de literatura), funções de secretário de educação de vários municípios e, ao longo desses oito, dez anos, em que se desdobrou, em gestões educacionais, não obteve nada em troca, além da práxis de magister revolucionário e do salário mirrado mas generoso, o que o eleva no âmbito da qualidade e da ética do trabalho público. É um remediado como somos os que agem movidos pela vida da boa consciência. E AG é evangélico,  erudito e poeta.


AGORA

Hoje, Admmauro Gommes é considerado um dos melhores poetas brasileiros da atualidade. Se não o melhor do século 21.


Poder-se-ia dizer pomposamente do 3º milênio, mesmo que esteja tudo no começo, faltando ao novo milênio 985 anos para se realizar. O que dá tempo aos que queiram o emular. Ele está realizado - e os quatro livros que irá colocar no prelo em 2015 bem dizem do novo AG (poeta cuja nova poesia começa com o século 21). E que, além do que consta do seu blog (professordeliteratura.blogspot.com.br), o novo poeta novo AG vai lançar da nova poesia nova, estampar na internet, o primeiro livro de poesia absoluta na rede. É que ele encarna - com alunos e professores da FAMASUL - uma nova modalidade de rima (sem rima), uma nova e estranha poética (sem poemas velhos) nada relativa - que é a Poesia Absoluta ou neoposmoderna, que ele, AG, com Marcondes Torres Calazans, João Constantino, Rogério Generoso, Carlos Newton Júnior, Ricardo Guerra, Wilson Santos, Sylvia Beltrão, Romilda Andrade, Cícero Felipe Ramos e outros professores, teorizou, organizou congressos, manifestos e publicou um livro A estranha poesia de Vital Corrêa de Araújo, pela Edições Bagaço, Recife - PE.

 

O QUÊ

O primeiro livro (coletânea de poemas) de quem considero o melhor poeta brasileiro do século 21 é um book digital e intitula-se Fernando Pessoa e o mar. E vai fazer furor e repercutir Atlântico afora.

Admmauro Gommes aproveita o 2015 dos seus 50 anos para homenagear os 100 anos do orfismo português - da revista que já nasceu pré-modernista. Orfeu, um dos pontos de lança da extraordinária poesia pessoana de validade universal até hoje.

Vou conversar com o meu amigo literário, José Paulo Cavalcanti Filho - que escreveu o melhor livro do século 21 sobre Fenando Pessoa - sobre a obra de AG, por considerá-la uma verdadeira revolução na poética luso-brasileira.


HÁ CEM ANOS


AG detectou em 2015 (ano de seus 50 anos) feitos de FP e do grupo de líricos delirantes antenados ao futuro da linguagem universal e da língua portuguesa. Já, em 1914, fora promissor: em 8 de março surge Alberto Caeiro (Guardador de rebanhos), escreve Opiário, Ode triunfal (atribuídos a Álvaro de Campos), cria o primeiro poema de Ricardo Reis, junto ao grupo de que sairá Orfeu... E possuído da consciência do poeta maior, FP, em carta a Sá Carneiro, declara ter atingido o ápice de sua maturidade (e maioridade) literária.


A 20 de fevereiro de 1915, entra no prelo o primeiro número de Orfeu - e em inícios de março Orfeu é publicado. Em julho de 1915, estampa-se o segundo e último número da revolucionária revista, nele a Ode a Walt Whitman, Chuva Oblíqua de FP e Ode Marítima de Álvaro de Campos (com menos de um ano de criado o pseudônomo). Vinte anos depois, o luso gênio ir-se-ia (o que disse: O paradoxo sou eu). "Ninguém me entende. Não tenho em quem confiar - e  confiar meus poemas. Nem à  família, nem a amigos."

O mesmo entusiasmo (a  possessão de um deus lírico) de FP flagro em AG. A mesma rebeldia linguística, o mesmo inconformismo léxico e sintático, a mesma irrespeitabilidade exaustiva com a gramática estabelecida. Contenção e  expressão do verbo muito além dos razoáveis limites, limitações servis que os poetas brasileiros de hoje acatam religiosamente, irrecusavelmente obedecem, aceitação passiva e anacrônica que enorme prejuízo causa à imaginação literária (apeando o ID criador), inibida por rima e suspensa pela aritmética do canto, a imaginação desaba, o ID se recolhe a seus refúgios intramentais.


FP e AG - a seu tempo, mutatis, mutandis – imergem na vertigem do verbo, possuem-se do autêntico delírio lírico. Vão à voragem criadora por excelência, dela tiram o melhor poema, a exemplo, no caso de AG, de Fernando Pessoa e o mar.

Enfim, possui-os o fascínio da flor plena do verbo e o ímpeto da luz sem diáspora e não o elementar limite verbal de iluminação da palavra.

 

FIAT

AG faz hoje a melhor poesia brasileira – de uma cidade do interior de Pernambuco – porque nele exuberam condições subjetivas, é um lírico consciente e superdotado. E, a estas, adicionou condições objetivas, que é a entrada no átrio de um novo século, com uma nova e avançada concepção de poesia, deixando ao longo do tempo velhas tradições parnasianas, condoreiras, retórica de eloquência sentimental, velharias recicladas no tempo e ultrapassadas, iniciando uma poética voltada ao ultrafuturo. Saiu AG do pântano dos iguais, em que se hipopotamizaram os “poetas” (elementares, não absolutos) brasileiros, rimadores obsessivos e fanáticos contadores de sílabas, constituindo estes uma mediocridade poética organizada e operando o passado vertiginosamente. A poesia, para AG, não é mais uma retomada do passado, mas uma “volta ao futuro.”

A excelência da nova poesia admmauriana conheço, publiquei-a em minhas revistas (Singular, Papel Jornal e Urubu) e no jornal centenário O Monitor, de que fui editor e sou editorialista, propriedade do haicaista Osman Holanda.

 

 

PROCESSO DIALÉTICO

AG saiu de uma poesia preciosa para outra frutuosa. Saiu AG de um círculo vicioso (poema medido, rimado, repetido poema anacrônico) e entrou de frente num virtuoso. Em que distingue – e bem, sentido e referência que leitores relativos confundem – e bem. E opôs-se à tendência (ou realidade pauperizada da poética reinante antes de AG) de submeter a escrita poética à logica da linguagem (e seu automatismo subsequente), reduzindo a poética à prosa poetizada ou a afeição sem trégua à mimética (descriadora).

O novo poeta AG deixa, portanto, de sentir a escrita poética como representação da representação, para vê-la como uma forma de representação da existência. Ele está dotado de um weltansshunng lírico, ou concepção de mundo, das coisas, do ser, da sociedade e da poética avançada.

 

SALTO DE QUALIDADE

Uma das marcas (que ora registro) da nova poética – que grassa em Palmares e Mata Sul – é o grau de originalidade (absoluta) que AG impõe a seus novos poemas, dentro do novo modo de fazer poética. Que é dialético (com absoluto desprezo à lógica aristotélica predominante na poesia brasileira), ultrapassando qualquer acronicidade - daí a relativa dificuldade de entendimento de algo que é absoluto, poeticamente considerado. É possível ver que o salto dialético de qualidade de AG (das dezenas de livros anteriores – quantidade, para este primeiro - qualidade) implicou na abrupta recusa de escolhas (que ele fizera quando ainda poeta relativo). O “desentendimento” relativo (na acepção normal) é construtivo e favorece leitor, que realmente “entenda” o que seja poesia neoposmoderna.

É AG o poeta (tal como deve ser) do devir, do novo milênio. E a justificação é a arte que ele aporta (o olho do iceberg) tal como ocorreu com os séculos finais dos milênios. O do XX, com o expressionismo poético – de 1909 a 1920, - breve e profundo, que criou as possibilidades da poesia do futuro dado (Dada) e do devir surreal. E AG, do alicerce desses processos poéticos vai à melhor poesia. Ele não está atuando como poeta, está sendo poeta. Sua poesia aponta o futuro (não mais o passado – que rima com ultrapassado). Ele abdica do mero decalque da realidade (em poemas descritivos sentimentais) e encara sua própria realidade (poética e singular de quem exibe firme consciência do que é ser poeta da neoposmodernidade. Ser contemporâneo de si mesmo, em 2015.

 

Abdico de comentar - ou citar os poemas da coletânea virtual Fernando Pessoa e o mar, porque eles estão no ar digital, à disposição da melhor imaginação do leitor mundial. À distância de um suave toque de teclado, leia a melhor poesia brasileira de hoje.

Sobre a importância universal de Fernando Pessoa, vale registrar também aqui a visão de Jakobson e Borges. O primeiro considerou ser imperioso incluir FP no mesmo nível, no rol dos gênios artísticos do século XX, como Picasso, Joyce, Braque, Stravinsky, Le Corbusier, entre muitos. Pessoa inclui-se na série escassa de poetas complexos que expressam todo o potencial idítico – e um tal critério os situa (entre poetas artísticos) muito à frente dos poetas privados de complexidade construtiva.

De Pessoa, diz Borges: Nada te custou, Fernando, renunciar as escolhas e aos seus dogmas, às vaidosas (fogueiras) figuras de retórica e ao trabalhoso empenho de arquitetar um país, uma classe ou uma época. Representaste a poesia do universo humano integral.

 

FINALMENTE (ADENDO)

Quando afirmei, no inicio, que considero Admmauro Gommes um dos melhores poetas (ou mesmo o melhor) poeta brasileiro da atualidade (2015), não disse nada gratuito ou imponderável. A afirmação se alicerça no meu conhecimento, como poeta que publiquei 20 livros e como razoável crítico amador. E, portanto, na minha autoridade relativa e na minha (embora limitada) reputação, inclusive como propugnador da “nova modalidade de rima”, denominada poesia absoluta, é que baseio tal eleição. E assino embaixo. Dou fé vital.

Obs.:

O autor de Ode a Walt Whitman não é García Lorca?

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Murilo Gun

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