Por se tratar de tema essencial a Rogério Generoso, o silêncio poético ganha esse destaque. O silêncio é a fonte a que regressam as palavras. O poema odre que guarda a sede do verbo. Regresso que é partida. A origem do poema é o silêncio original.
Escrevemos com palavras, mas o fazemos desde o silêncio, reza Paz.
Rimbaud gritava que havia de escrever silêncios e fixar vertigens. E o fazia como um exercício para chegar ao verbo poético acessível a todos os sentidos.
“O silêncio essencial é o que se coata à palavra (como hóstia salvífica a lábio incurso no pecado) como residência (do ser, conforme Heidegger), como sua morada; é o silêncio que, dito, entredito, visto, entrevisto, constitui nossa fala essencial”, adverte Ramón Xirau, em seu livro palavra e Silêncio.
O silêncio pontua a fala, dá-lhe presença e consistência, do mesmo modo que o poema é composto (ou resultado) de pausas (que é a respiração do texto).
Que seria do poema sem hemistíquios?
O silêncio poético, a renúncia à palavra, alicerce responsável pelo edifício do poema, é parte da linguagem literária.
Nem Rimbaud nem Wittgenstein optaram por essa renúncia porque já não tivessem o que dizer. O gesto deles é essencial à poesia de hoje.
Cintio Vitier (o cubano mago poeta) define sua inolvidável e valiosa obra literária como “o testemunho do silêncio com que me expresso”.
Ao invés de exigir calar-se o silêncio leva o poeta à palavra. É a mina e o fundamento do verbo.
O silêncio expressa-se a si mesmo pela palavra (que rouba e bota na boca do poeta poeta, como no caso de Rogério).
O silêncio (poético) é quase físico, íntimo e tem forma de uma linguagem secreta.
Secreto aqui não equivale a oculto, muito menos esotérico. A linguagem secreta do mundo é visível, porém ainda não dita, ainda não arrancada da garganta da palavra. Só o poeta poeta alcança esse feito cirúrgico verbal.
A palavra é signo de silêncio antes de ser poema.
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