Viver é olhar uma flor. Com êxtase. E suficiente ardor. Viver para contemplar o néctar (que alimenta o pássaro e a alma).
E à sombra do rumor do milho e do vozerio da abelha ouvir o aroma do advir. E saber o que há nos matadouros. E nas mentes subhumanas. E sentir pássaros. Doce zunir de cortiços. Sentir como se fosse alma efervescendo. O sabor de um lírio ouvir com o espírito. Antecipar rota trêmula de borboleta. O êxtase das coisas beber. Com minúcia para ressaltar seu vão sabor. Ébrio mundo ungir (de dor ou morte por água austral).
Todas as minudências de uma rosa qualquer tocar com a mão destra da alma, que é perspicaz a cada átomo de que se compraz.
Imaginar que a maternidade foi a única verdade que Deus nos deu de graça. E nada nos cobra porque o parto (do mundo, das coisas, pessoas, flor, animal, maçã, sopro) é o dom maior Dele. Desde o bigbang celeste.
Ele quer a expansão da alma.
Não seu encolhimento. Que é o que tão bem fazemos. Reduzir o poder de Deus. Invertê-lo. Desmaiá-lo. Covardemente. Sem palavras. Ou atos.
As modernas pessoas detestam o silêncio. E a música das esferas românticas esnobam. São como pedras triunfando da solidez muda. Olhos presos a monitores. Ou a lucros inclementes. Derramando-se das algibeiras cínicas. Ou loucas. Meras, doutas, cretinas contas bancárias do espírito comercial da vida. Olhos presos a desmesuras. Desmesurados porque olhos. A pequenos gestos amputados acrescentado devasso através. Assim, as pessoas ditas modernas – e com olhos simulacrados e alma de sanduiche misto frio – conservam sua insensibilidade inteira. Porque vivem das migalhas da vida. Que mendigam. Algumas vezes indisfarçadamente. Outras com extremo sigilo.
Perdem o banquete que Deus nos concedeu. Quando nos ofertou viver, criando nossa mãe. E apontando o pai, ferramenta necessária, tipo disparo de sêmen(te).
Não esquecer: Deus nos permitiu ser. E muitos de nós não somos mais. Mesmo se temos mais.
Não somos. Insinuamos, muito mal, ser. Contabilizamos horas, credos, alegrias, tristezas, guloseimas... e coisas amaras na vida ímpia, cínica, morta. Contamos com os dedos (e a ponta da alma) horas (e quilos de oxigênio). E as envelopamos emborrachadas devida e incriteriosamente.
Porque time is money.
VCA é ex-presidente da UBE e ex-diretor da AIP.
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