Toda a teoria pragmática, fundada na comunicação via diálogo, vivo, efetivo (mais denotativo que conotativo); a filosofia da linguagem assentada na comunicação social,
no intercâmbio de vozes plurais, fruto de fórmulas, réplicas, manipulações, gerando muito tumulto criador, polifônico, inumerável; a carnavalização da linguagem (centrífuga) em plena transgressão festiva, criadora, encadeada; em suma, o anunciado (discurso) que só adquire significado em relação ao outro (jamais em si mesmo), tudo aplica-se só e exclusivamente à prosa (ao romance). É o enunciado orientado ao outro (à socialização, à solidariedade e não ao solitarismo de um indivíduo, autônomo, querendo ser Deus).
Na poesia, como não há a relação eu/outro, o enunciado poético não produz significado (cria a crise do significado, a morte do sentido normal, entroniza o silêncio como polo de comunicar-se).
Como não existe – não é necessária, a relação com o outro, o poeta só lida com ele (ou melhor), com o eu – não empiricamente dele, e não com outros.
Daí, porque Bakhtin se negou a estender à poesia sua teoria dialógica, que permanece íntegra e verificável, no âmbito da prosa. O enunciado (discurso) concebido, demarcado, estabelecido com o caráter dialógico e social.
Na teoria de Bakhtin, a pluralidade das vozes é fundamental, mesmo vital. Isso não é aplicável ao âmbito da poesia, em que o caráter base é o sujeito (não o objeto), é a singularidade radical.
A finalidade (ou o fim) da poesia está na mensagem em si – e não além da mensagem. Pois o propósito da poesia é ela mesma. Daí vem Genette com o conceito de transtextualidade ou transcendência textual do texto, para abrigar a poesia, no âmbito da intertextualidade (nascida do dialogismo de Bakhtin, que, com Platão, exilou o poético da prática de sua teorização (polifonia da linguagem prosaica).
{jcomments on}