16
Ter, Abr

Artigos
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

Poema desidrata-me veias, árido ato único da energia de suas águas abstratas, rimas morrem em meu rosto que nunca termina,

o último solitário sal já não me acena, sinal de que a terra me desdenha, finda quase o destino, a ânima nada amena me estranha, talvez não, sim... parca som escuro acompanha, movendo-se sorrateira por sob meu ânimo ávido mas pálido sobrevivente da décima extrema-unção vital que no leito inóspito já cintila no estado escrito de agora tudo corre como cavalo no pampa selvagem, ante penumbra de algarismos, sob ângulos de longos anos de desânimo, perante silêncio de címbalos do interior inúmero das asas veloces da hora do trânsito íntimo de esqueléticas passagens degolando todo o porvindo, a rasgar visões já cegas, ante todos esses perantes, eu oro ao escuro... e aveludado eco de flauta de osso estocástico ouço... fragmentos insones mas íntegros do último levante de pássaros do lado esquerdo de minha varanda camponesa ilusória adornada de rosas imobilizadas em seu cartório de prebendas odoríferas mas selvagens odores anárquicos furiosos com as narinas civilizadas e imaturas, porém no entorno de orquídeas... voos dodecafônicos flagro de rouxinóis ingleses modulando árias à tarde da campina insuspeita do campo de meu coração rebelado exasperando suas músicas verdes e finas de modo que dentre os orgasmos das pálpebras onomatopaicas recolho palavras de gozo, adjetivos de cios feminis e êxtases buliçosos ficados em meu último e triste rosto  sobrevivente das erosões urbanas e dos tratores metropolitanos que abrem rugas no coração humano desprevenido e inútil e é tanta discórdia e óbice escandaloso e depressivo do civilizado limite que já não distingo porto e parto finda. Agora, mesmo, sim ou não, sei que já não há quem mais ordenhe sombras e o nascimento da dor vem célere, incontido, circunflexo, ininterrupto, venerável, sobretudo adjetivo, aberta em copas acres a usina do parto de opróbrios desamáveis, daí porque (por causa de mim, não de você) passei a noite em  covas próximo ao cemitério branco da aurora, sentindo cheiro das cinzas de lobos turvos acantonado em minha narina impura voraz odor a manicômios destilando como lava de vulcão sobre estereótipos avinagrados, enfim a tudo a que impuseram meu futuro de avô aceito com ternura obsessora e louvável sorrir de pantera loura, porém decerto que orgulho aprendi, sob sonâmbula lua de pântano onde vivo, com a leitura sadia de carcaças de cães, com esqueletos de cigarras, aprendi a cor crocante do eco eucalipto (quando nos quinze anos de Gravatá divisava a cada fim de madrugada a selva nada selvaggia e odorosa), até que num belo então saí da ribalta e no palco ecumênico de mim o vazio solta sua valsa e do oco interior do canto brota áspera aurora fatigada que penetra meu rosto ainda incompleto decorando a face com hinos de urtiga e dom de gravetos, sulcando a pele, tudo junto ao cadáver de uma ameixa (que me debuxa), pela qual rezo em honor a flores e aromas do futuro, sem desnotar que no pátio de andorinhas anexo ao mosteiro vulnerado mas venerável distingo codornizes vermelhas cujo coro cordial me comove. Agora, os lábios do rebanho não deixam mais em mim úmidas raízes ou torpe crepúsculo (como ossos ocos de ângulos flutuando em minhas oiças cansadas) e assedia-me o coração também incompleto mas fatigado de incomplacências douradas doloridas canções escuras de ritmos noturnos suspeitos irrompendo de veias entorpecidas pelos já poderosos trombos do futuro cavalgando meu corpo passado indolente mas valente, até quando esses tais vultos de verbos dançarão em meus olhos desiluminados e de meu peito desafinado farão palco de suas desmesuras e até como poderão estender sobre meu ser quase podre eflúvios de sobriedade, raízes de alegre camomila, cânticos ocos mas anímicos, acres porém poéticos em última terrível instância? Súbito sono chega a ossos esquecidos no inóspito coração da poesia moribunda e abandonada mas valente (talvez não), árido compasso vibra meu desacordado púbis entristecido e cólume, algo enérgico vitamina meu instinto púbico como comício a praças corajosas, forças inescrutáveis de libidinosa têmpera me acude o laboratório encerrado e luz inacessível mas gloriosa acende o sonho proibido... e velozes assombros e incontidas usinas e inaproveitadas reservas e quase impossíveis mas apressadas explosões de íntimos obuses e venéreas granadas acampam em mim como mandíbulas... O antigo sono nada vital para quem idolatra e ora a insônias santas retorna a meus olhos vigilantes e atinge como petardo inocente o império do meu crânio exato mas exausto trazendo às cetulas doce distúrbio, levando-as ao gozo do fim nada glorioso para desespero dos pobres neurônios imprevenidos... pois as covas já se cavam mais crescentemente como apuro incauto (antes irrevelado) e fervor doente (maculado pelas louçanias do passado) e o cru momento indescritível mas ousado se aproxima já despaulatino e abusado, inevitável porém apressado, então o súbito estronda no corpo desembainhando antigas resistência desarmadas, armas de ousar depostas, incêndios de valente ânimo apagados (só a cinza da animosa valentia da vida restava indecisa e derrotada), então o súbito estrugir das mecânicas, supositórios, injeções  desanimosas, máscaras e potes de oxigênio, inúteis processos industriais solapados já na nascença, memórias de mortos amores nus abandonando o cenário branco e esquizofrênico, indelével, higiênico, asséptico até a náusea mas apenas figurinhas familiares, demonstrações de amor nas uteís devassas e felizes, mais máscaras adicionadas a tantas e um tanto de desilusão já mata. Tudo aço, tudo isso, suíço ou suíno, nada demove o cru momento indesculpável ou indesculpado, nada adia a noite sem dia, tudo indica o desenlace ovídico, isto é, sem poréns ou falsa desesperança, todo esse nada útil e vaidoso estado não impede o progresso da alma, nem o porvir inescrupuloso do corpo por sendas inimagináveis, indóceis e desalmadas, nada resolve ou estanca o fim do destino, nem dribles do azar ou manobras da dicha... Cicatrizes de vozes já pressinto aos domingos enquanto incêndios de rosas espreitam o interstício do ensobreado instante ou luz flácida joga no escuro de sempre. Tudo lembra o túmulo de relva onde orvalho jaza enterrado à sombra de abetos nus ou tristes, sem sais ou injeções de formóis condescendentes, nem úmidas cerimônias, a não ser formalidades de partilhas do silêncio a que nos convidou a vida intestina. Tudo isso – hipócrita e amável leitora – para que a vida não se resolva com suaves modos suicidas. Eita, vida bosta, já bastas!

 

Nota: Esse texto veio de um ímpeto causado pelo caso de uma moça paraibana que desistiu cedo. Como Cioran, acredito que... se não haja (ou restem) razões para viver, por que as haveria para morrer.

ATO DESATADO DE DESATE INDEVIDO PORQUE IMPRÓPRIO À VIDA QUE PARTILHEI  DO FACEBOOK DOMINGO

(Texto curto e rápido que a borbotões brotou como sopro ou compasso a vitais neurônios nus).

{jcomments on}

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
 
Advertisement

REVISTAS E JORNAIS