São, acredito, uma página e meia de poema, que encerra o livro GESTA PERNAMBUCANA, publicado pelo ESPAÇO PASÁRGADA, por Mário Hélio, em 1990 (por aí).
O que gerou a GESTA? Foi um gesto de uma grande amiga e uma das maiores artistas do Nordeste, quiça do Brasil, no Século XX. LADJANE BANDEIRA.
Como Ladjane agiu? Ela me encomendou os poemas de Gesta (e deu o nome), pediu que eu fizesse cerca de 30 poemas. Como e porquê.
Conhecia Ladjane Bandeira de nome e Esmaragdo Marroquim, também amigo me apresentou, a pedido dela. Isso em 1983. Ela me convidou a ir ao apartamento/ estúdio/oficina/residência/museu de tudo. No ap-ateliê-à beira do Jardim Treze de Maio com vistas eloquentes para o Rio Capibaribe, por trás do Ginásio Pernambucano, conversamos, me encantei com a decoração, coleção de pinturas, livros, objetos, artes a quatro... retornei dezenas de vezes.
Logo, ela me mostrou que eram dois apartamentos... um como ateliê, o público, e o outro - por trás – o lar real de Ladjane, bem decorado, mobiliado, iluminação especial. Devia ocupar um dos prédios mais famosos da época, ao redor do 13 de maio.
Ela me falou do álbum TRICENTENÁRIO DA RESTAURAÇÃO PERNAMBUCANA, que ela produziu e publicou em 1954, no âmbito das comemorações da reconquista da identidade brasileira e formação da atual pátria, não mais descoberta pelos lusos, mas conquistada pelos brasileiros a ferro e fogo, após 30 anos de renhida e continuada luta libertária.
O Álbum de altíssima arte, qualidade estética e gráfica impressionante, de Ladjane Bandeira foi a principal peça do programa de comemoração.
Se Holanda não tivesse perdido o Brasil, o que seríamos hoje? E Ladjane expressou isso.
Ela me mostrou fotos do álbum... fiquei fascinado, pois não conhecia a força plástica, o avançado tino pictórico, a arte maior de Ladjane Bandeira. Então, perguntei... e o Álbum? Ela disse não tenho, foram poucos exemplares e hoje só restam dois. Um na Fundação Joaquim Nabuco. O outro na coleção sigilosa do Arquivo-Público. Ao álbum do arquivo, você terá todo acesso, vital.
O que ela queria, o que me encomendou? Que eu fizesse um poema para cada gravura, logo, o mais cedo possível, pois Ladjane pretendia republicar o Álbum com meus poemas em 1984, ensejo dos 330 anos da Restauração 30 anos após.
Fui ao Arquivo (acho que era a irmã de Edson Nery da Fonsêca – Lúcia,) quem dirigia o Arquivo Público da Rua do Imperador.
Ao longo de 3 meses, compulsei dezenas de vezes o Álbum de Ladjane e compus 30, 40 poemas (não sei, porque não tenho mais o livro o último exemplar estava com Murilo em Barueri. Foi de supetão... não, foi um puro fluxo de inconsciência que se apossou de VCA, um vórtice criador algo incomensurável. Fora da caixa, como costuma dizer Gun.
Passei as composições (uma para cada gravura...) ela analisou, por alguns dias, me chamou e disse: Vital, esplêndidos os poemas, como eu queria, visava. Alguns poemas têm 2, 3 páginas, outros só ocupavam meia lauda. Só uma observação dela, que atendi. Tirar a palavra Guirlanda.
Tudo avançou, entreguei a encomenda em 100 dias... mas o projeto 330 de Ladjane desabou. A Prefeitura de Recife e o Estado não provisionaram os recursos, se recusaram. Ela sofreu, eu assisti. Passou meses chateada. Disse a ela que iria publicar em livro, ela me deu todas as fotos, as últimas, naquele tempo não se podia reproduzir.
Ladjane morre. Eu estava na Alemanha, período de 90 dias, soube depois.
Os originais prontos, eu tinha um tesouro em mãos e não sabia. Apareceu um concurso nacional – bolsa financeira a maior do Brasil. Comprei um fusca zero com o prêmio. Guardei por 6 meses no over night a grana. Seriam hoje, 30, 40 mil. O prêmio foi entregue no Teatro Santa Isabel, dirigido pela grande amiga e atriz maior Geninha da Rosa Borges. O prefeito Joaquim Francisco reuniu no palco O Conselho Municipal de Cultura, presidido por Lucilo Varejão, imortal e pai do também imortal Lucilo Varejão Neto. João Alberto fazia parte do Conselho de Cultura e deu plena cobertura na imprensa. Além do Conselho, no palco, a Orquestra Sinfônica. Na minha oração, louvei a amiga e criadora do poema. Ladjane Bandeira. De certa forma e muito justamente essa encenação, por grandes artistas da obra de Miriam Halfim, com duração de 80 minutos que está lotando o Teatro do SESC e continuará em outros espaços, é uma homenagem a grande LADJANE BANDEIRA.
{jcomments on}