Nem a morte trouxe paz aos ossos do Poeta. Desde aquela noite, entre 13 e 14 de setembro de 1321, em que expirou em Ravena, vítima da malária contraída em viagem,
pouco antes feita a Veneza, como embaixador de Florença, para dirimir questão resultante do conflito entre marinheiros das duas cidades. Ficou a tumba sem epitáfio porque o admirador e amigo Guido Cavalcanti acabou exilado, sem honrar a memória do Poeta. Levantou-se no seio da Igreja longa e injusta prevenção contra Dante e suas obras, tanto que, seis anos após a morte, o Legado Pontifício da Lombardia, Cardeal del Poggetto fez queimar “De Monarchia”, tachando-o de livro herético, propondo, também, que se exumasse o cadáver e, queimado, fossem as cinzas lançadas ao vento.
Por sua vez, Florença, remoída na consciência, por ter exilado Dante, por reles questões políticas datadas, passou a disputar os restos mortais, pretendendo reavê-los de Ravena, ao que esta se opôs, trasladando-os para esconderijos, originando tão sérias confusões que surgiram dúvidas sobre os despojos descobertos em 1865. Afinal, em novembro de 1921, uma Comissão autenticou os ossos do Poeta e os encerrou em urna de chumbo com inscrição alusiva: DANTIS OSSA / NUPER REVISA / ET HIC REPOSITA / PRIDE KAL. NOV. MCMXXI (Osso de Dante recentemente identificados e aqui repostos, 30 novembro de 1921.
Nota: lembrei da odisseia dos ossos de Eva Peron, que sumiram por mais de dez anos, demorando-se dois anos atrás de uma tela de cinema em Buenos Aires, depois passeando por dezenas de lugares inclusive em Paris, onde ficou Evita enterrada em pé, até o retorno dos ossos a Argentina, direto para o Recoleta.
{jcomments on}