É urgente o processo de ampliar a suficiência da linguagem verbal, do universo da ação poética, no sentido de abranger um campo maior
– mais extenso intensivamente – da concepção poética da vida contemporânea, desligando-a das formas anacrônicas de poesia, cuja concepção atrasada desvirtua a visão moderna de vida (a atualidade) e reduz a imaginação e a inventividade. Essa barreira é portentosa e seduz pela facilidade, isto é, desvalorização da poesia, cujo baixo nível de compreensão imediata do poema induz à desimaginação e à rasteiridade e não à elevação do nível poético geral.
Durante o período ditatorial recente, foi posta em sérias dúvidas a essência verbal da linguagem poética, isto é, sua desvinculação com a palavra, a prioridade dada à semiótica, como superior.
Ainda hoje existem e operam pasmos de oralidade como algo superior à escrita, o que permite avaliar o quanto estamos atrasados. A declamação do poema é forte sinal da sobrevivência da oralidade e a manutenção vigorosa do instrumento da mnemotécnica como condição poética adequada a esta época.
O que é absoluto anacronismo. Acresça-se a isso os espasmos recitativos, reforçando as razões rítmicas da demarcação declamatória. E nada mais comuns em fóruns literários a declamação de poemas bem ritmados.
O verso livre marco da libertação dos cânones da oralidade absurdamente está em decadência desde a Geração 45. A exceção de CDA e poucos, a liberdade da imaginação que o verso livre trazia recuou e voltamos ao nível – mutatis mutandis – do Século XIX, em poesia.
O poema é um corpo verbal conceituava Cassiano Ricardo e não pode ser alienado a caprichos extralinguísticos, porém como verbo tem que evoluir e de pronto e definitivamente desbilaquizar-se sob pena de deixarmos de ser contemporâneos de nós mesmos.
O predomínio da função estética mais que rímica ou que é o mesmo dispenda de função sintática relevante para valorização da significativa ou processos não discursivos, porém realmente poéticos é mais que vital na libertação da poesia brasileira dos cânones neoparnasianos em ato, hoje.
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