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Qua, Abr

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Rogério Generoso

Por que a predominância, na poética do século XX (Perse, Montale, Seferis, Quasímodo, Elithis – todos prêmio Nobel pela obra poética) do hermetismo, ou o que torna a poesia indizível.

Na fruição da obra poética, há um óbice considerável constituído pela atuação de uma força que leva a percepção atual do presumido leitor ao passado, ou seja, a uma situação de imobilismo (que se confunde com tradição, cuja permanência autoritária afeta o futuro estético).

Os modelos não são atualizados em face da força de inércia que paralisa a forma e vulgariza o conteúdo da obra: a estatura diacrônica é pigmeunizada pela corrosiva ação sincrônica.

A arte é tida como algo já concluído, estabelecido no passado, e o presente de toda arte é supérfluo. Qualquer inovação equivale a desvalorizar o passado, profaná-lo, e atentar contra o que já foi alcançado – e está consolidado em arte. Para os arraigados cultores do passadismo poético, a arte do presente é estranha. Algo eteizada. Pararreal.

Outro critério dualista (quase mesmo maniqueísta) é o que empluma o prélio clareza versus obscuridade (que são conceitos relativos, pois só se é claro ou obscuro, para alguém, para um público determinado por suas competências literárias) afirma Cláudio Veras. A obscuridade ou a clareza não são qualidades em si, mas percepções, fatos psicológicos, deduções. Não são ações, são efeitos.

A obscuridade que chancela a arte moderna (poesia, pintura, música, cinema e o romance experimental – Musil, Joyce, Carlos Newton Jr, Alberto Lins Caldas, João Marques, Osman Holanda, Guimarães Rosa, Osman Lins, Bramhs, Mozart, Cage), por largo tempo, não dizia respeito ao mérito da obra, mas concernia ao julgamento negativo do público, viciado em consumo fácil, e da critica dita acadêmica, apta a consenso raquítico.

Os poetas modernos não mais se comunicam com a maior parte da classe geral dos fazedores de verso.

A obscuridade resulta de uma comunicação interrompida. (Ou inapropriada.) Com o passado. Mas não é algo ainda suspenso no passado. Essa abordagem tem como alvo o trabalho poético de Vital Corrêa de Araújo.

A V.C.A, como poeta, aplicar-se-iam facilmente as epígrafes. “Há certa glória em não ser (bem) compreendido”, dispara Baudelaire. Fazer poesia, para G. Benn, equivale a elevar as coisas à linguagem do incompreensível.

“Poeta ambíguo, entre coisas duplamente agudas, assiste ou elabora peleja entre tudo aquilo que luta pelo presente contra a completa perspectiva do futuro’’. S.J. Perse.

“Ninguém escreveria versos se o problema da poesia fosse fazer-se entender, ser compreensiva amiga’’, diz Montale (Prêmio nobel de poesia).

Porque na poesia moderna há algo que força a linguagem poética num sentido que se distancia do âmbito da comunicação social normal, a pecha hermética é aplicada (e somente) pelos ingênuos leitores.

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Murilo Gun

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