O poema absoluto opera, através do verbo, uma fusão entre o consciente e o inconsciente, tanto do autor poeta, quanto do leitor, que complete o poema, encontrando em
si a expressão poetizada. É do amálgama entre o pensamento e a expressão que o poeta absoluto realiza sua humanidade no poema que se situe, além do banal dito de modo formal e o meramente informativo.
Entre as técnicas ou modos poéticos (como inacabamento, descontinuidade sintagmática e gramatical, alusões escusas ou não, destaca-se o gotejamento verbal (drapping), na pintura) que seria adotado pelo pintor americano Jackson Pollock. Esse modo poético provoca estranheza no leitor adequado, o que é uma característica da poesia absoluta.
A estranheza ou assombro produzido pelo alumbramento e maravilhamento do leitor é o barro de onde brota o poema absoluto, feito de vertigem, ornado de ambiguidade e sugestão. Como diz o professor Sébastien Joachim, o poema novo aturde, sidera, confunde, assombra.
A arte literária, em particular a poética, não é expressão do povo, mas do indivíduo... e quanto mais solitário, desprendido, independente, singular mais poético e avançado na poesia. Como tal, é uma arte abissa, desconcertante, estranha ao tempo, muito além do figurino da cultura estável... e conservadora.
Qualquer poema deve ter o condão de ter imprevisível seu significado. Se o sentido se apresenta fácil, óbvio, imediato, o poema é fraco. Ou não é bem poema. A velha poética do trobar clus, do poema de sentido claro, indubitável, definido e definitivo está ultrapassada, há 80, 90 anos, porém ainda estrebucha, no Brasil.
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