O mistério da poesia somente se engasta na página (papel ou alma) com o selo (ou saliva) da metáfora, com o elo que sólido cola palavra e imagem (liame de vocábulo) e assim monta o objeto sintagma, molécula do verso.
Gasta rudemente o mistério da poesia, desperdiça sua beleza ínsita a pressa que aniquila o verso; ou a indemorosa visão que infelicita (desgasta, roe) a interpretação da fantasia, vestindo a doce ilusão que a palavra poética concede com roupas vistosas esnobes, caras, burguesas, impróprias, degenerando o mistério da poesia em tripas e trapos de comercialização imagética com fins de lucro barato (comunicação implícita ou não).
A poesia nutre-se de imagens interiores (submersas que precisam ser resgatadas hiperexploradas) formuladas pelas tintas da metáfora. E não por cálculos externos, convenções anacrônicas (ábacos bilaqueanos, cofres de rimas).
É a imagem interior e anti ou anaturalista por definição.
Na poesia dita neoposmoderna mesmo a sugestão hieroglífica, o sentido duvidoso (mas não hipócrita), o forte nexo do desconexo e o elo indemonstrável (ou a condição aparente de ilegível) são primais.
A questão vital, o ponto crucial dessa poesia nova (que quer mesmo ser moderna e não se envergonha de tal) residem no fato de que o poeta deve pôr no papel (da alma) o que ele vê em si mesmo (e não no outro) e nunca o que os outros (leitores ou não), incluindo familiares, amigos, parceiras da carne etc, esperam dele.
Repito: A poesia é (serve) para (nós nos) compreendermos. Nunca, jamais para sermos compreendidos.
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