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Dom, Jun

Ensaios
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Reúno quatro tópicos, quatro pequenas

exposições centradas no problema

da metáfora, a partir de conversas, no

Retiro das Águias (espécie de éden da Mata

Sul de Pernambuco onde se situa, num

páramo perto do céu, o Castelo do Reino

do Reencanto e a casa do rei Donzé),

com o Professor de Teoria Literária da

FAMASUL, Admmauro Gommes.

 

 

  1. Por que poema absoluto é inexplicável?
  2. Novas significações
  3. Metáfora viva
  4. Recepção da poesia moderna
  5. Sentido em poesia

 

POR QUE POEMA ABSOLUTO É INEXPLICÁVEL

 

O poeta, pela metáfora, aproxima coisas distantes e díspares. O que assombra. É que o poema absoluto coloca à escolha do leitor (conforme Admmauro Gommes) duas ordens de interpretação: uma literal, outra metafórica. Então, o leitor há de ser, sobretudo, deslindador de metáforas. O poema absoluto tende a aceitar só a interpretação metafórica (ou seja, só se faz possível recebê-lo – recepcioná-lo, mediante interpretação metafórica, e renunciar, de plano e “in limine” à literal). Não há sentido na poesia absoluta, há, sim, uma situação de criação de sentido no poema absoluto. E quem o faz, quem o cria (ao sentido) não é o poeta, porém o leitor. O sentido advém da tensão das palavras e entre as palavras-no-poema. O que não se consegue é explicar essa criação de sentido. Daí, dizer-se é inexplicável, não tem explicação o poema absoluto.

 

 

NOVAS SIGNIFICAÇÕES

 

No poema, não interessa o significado, porque a finalidade do poema não é prosaica (se o fosse não seria poesia, seria poema sem poesia, poema prosaico). No poema interessa  a significação (que difere do mero significado e é mais que sentido).

A expressão metafórica vivifica o poema. A ela é inerente a poesia. É a metáfora a essência da poesia. (Ver Jorge Luís Borges, no livro A metáfora).

O objeto do poeta (absoluto) moderno é atiçar, desencadear, fazer emergir uma nova significação do leito, do enleio, da laia, do elo, anelo, liame das palavras em ato poético, na volúpia (ou cópula) do verbo (da palavra com imaginação).

P. Ricoeur é preciso e legítimo ao dizer: A metáfora é uma criação instantânea, uma inovação semântica que não tem estatuto na linguagem já estabelecida e que apenas existe em virtude da atribuição de um predicado inabitual ou inesperado. Por conseguinte, a metáfora assemelha-se mais à resolução de um enigma do que a uma associação simples baseada na semelhança; é constituída pela resolução de uma dissonância semântica. Seu produto melhor é a Poesia. (Absoluta).

 

 

METÉFORA VIVA

 

A metáfora é viva e nutriente do poema.

O problema é a metáfora morta, que desgasta

o poema. O empobrece. O estraga. O faz podre.

O que está em jogo numa expressão metafórica

é o aparecimento de um parentesco (liame

meio que oculto) onde a visão comum

(do leitor a leitor) não percepciona

qualquer relação, dispara Ricoeur. Isto é,

leitor ignorante, bobo, ingênuo nada vê da

mina sob seus olhos repleta de pérolas verbais

e significados sem conta.

O poeta não incorre em erro calculado quando

agrega palavras-no-poema, associando

coisas, que não se conheçam, não se

ajustem ou não se juntem, que nunca

se admitem, e mediante esse aparente

“oxímoro”, essa descoordenação, esse choque

de díspares palavras, ou melhor ainda,

desse desatender das palavras advém

uma nova relação de sentido, conf.

G. Ryle.

 

 

RECEPÇÃO DA POESIA MODERNA

 

O problema da recepção da poesia (realmente)

moderna ou neoposmoderna é que

a timidez do leitor (ou falta de ousadia

exegética) é proverbial. Ele põe o olho na

página, lança-se no poema querendo de um

golpe abarcar tudo, tudo “compreender”.

É a compulsão ou o vício ocupacional

(de ocupar-se sempre de poema neoparnasiano)

da leitura fácil que o levam (leitores) a “entender” de

uma só visada tudo. Quando não o faz

num primeiro “galope da vista”, ele

sofre outra compulsão a de fechar

o livro ou dobrar a página, em busca

do fôlego de poema melhor,

mais compreensível. E aí desanda...

até cadê a poesia (?), cadê a rima (?), e de

cadê em cadê o desastre dendê.

 

Ao defrontar-se com uma metáfora

nua (à Ricoeur) é que o imbróglio

começa.

 

 

SENTIDO EM POESIA

 

Poeta não dá sentido a ninguém e nunca.

Quem constroi o dado do sentido é leitor.

Poeta apenas estabelece na página o caos da palavra.

Subestabelecido no livro.

Leitor constroi (ou demiurgia) cosmos desse

caos verbal, retira desse caos o cosmos do

sentido. Então, quem dá sentido ao poema é leitor.

A poesia absoluta é a que permita a

emergência de novas significações. Tal,

como Paul Ricoeur, em Metáfora

viva, em que trabalha e conceitua

a hermenêutica da plurissignificabilidade

do texto poético.

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Murilo Gun

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