Reúno quatro tópicos, quatro pequenas
exposições centradas no problema
da metáfora, a partir de conversas, no
Retiro das Águias (espécie de éden da Mata
Sul de Pernambuco onde se situa, num
páramo perto do céu, o Castelo do Reino
do Reencanto e a casa do rei Donzé),
com o Professor de Teoria Literária da
FAMASUL, Admmauro Gommes.
- Por que poema absoluto é inexplicável?
- Novas significações
- Metáfora viva
- Recepção da poesia moderna
- Sentido em poesia
POR QUE POEMA ABSOLUTO É INEXPLICÁVEL
O poeta, pela metáfora, aproxima coisas distantes e díspares. O que assombra. É que o poema absoluto coloca à escolha do leitor (conforme Admmauro Gommes) duas ordens de interpretação: uma literal, outra metafórica. Então, o leitor há de ser, sobretudo, deslindador de metáforas. O poema absoluto tende a aceitar só a interpretação metafórica (ou seja, só se faz possível recebê-lo – recepcioná-lo, mediante interpretação metafórica, e renunciar, de plano e “in limine” à literal). Não há sentido na poesia absoluta, há, sim, uma situação de criação de sentido no poema absoluto. E quem o faz, quem o cria (ao sentido) não é o poeta, porém o leitor. O sentido advém da tensão das palavras e entre as palavras-no-poema. O que não se consegue é explicar essa criação de sentido. Daí, dizer-se é inexplicável, não tem explicação o poema absoluto.
NOVAS SIGNIFICAÇÕES
No poema, não interessa o significado, porque a finalidade do poema não é prosaica (se o fosse não seria poesia, seria poema sem poesia, poema prosaico). No poema interessa a significação (que difere do mero significado e é mais que sentido).
A expressão metafórica vivifica o poema. A ela é inerente a poesia. É a metáfora a essência da poesia. (Ver Jorge Luís Borges, no livro A metáfora).
O objeto do poeta (absoluto) moderno é atiçar, desencadear, fazer emergir uma nova significação do leito, do enleio, da laia, do elo, anelo, liame das palavras em ato poético, na volúpia (ou cópula) do verbo (da palavra com imaginação).
P. Ricoeur é preciso e legítimo ao dizer: A metáfora é uma criação instantânea, uma inovação semântica que não tem estatuto na linguagem já estabelecida e que apenas existe em virtude da atribuição de um predicado inabitual ou inesperado. Por conseguinte, a metáfora assemelha-se mais à resolução de um enigma do que a uma associação simples baseada na semelhança; é constituída pela resolução de uma dissonância semântica. Seu produto melhor é a Poesia. (Absoluta).
METÉFORA VIVA
A metáfora é viva e nutriente do poema.
O problema é a metáfora morta, que desgasta
o poema. O empobrece. O estraga. O faz podre.
O que está em jogo numa expressão metafórica
é o aparecimento de um parentesco (liame
meio que oculto) onde a visão comum
(do leitor a leitor) não percepciona
qualquer relação, dispara Ricoeur. Isto é,
leitor ignorante, bobo, ingênuo nada vê da
mina sob seus olhos repleta de pérolas verbais
e significados sem conta.
O poeta não incorre em erro calculado quando
agrega palavras-no-poema, associando
coisas, que não se conheçam, não se
ajustem ou não se juntem, que nunca
se admitem, e mediante esse aparente
“oxímoro”, essa descoordenação, esse choque
de díspares palavras, ou melhor ainda,
desse desatender das palavras advém
uma nova relação de sentido, conf.
G. Ryle.
RECEPÇÃO DA POESIA MODERNA
O problema da recepção da poesia (realmente)
moderna ou neoposmoderna é que
a timidez do leitor (ou falta de ousadia
exegética) é proverbial. Ele põe o olho na
página, lança-se no poema querendo de um
golpe abarcar tudo, tudo “compreender”.
É a compulsão ou o vício ocupacional
(de ocupar-se sempre de poema neoparnasiano)
da leitura fácil que o levam (leitores) a “entender” de
uma só visada tudo. Quando não o faz
num primeiro “galope da vista”, ele
sofre outra compulsão a de fechar
o livro ou dobrar a página, em busca
do fôlego de poema melhor,
mais compreensível. E aí desanda...
até cadê a poesia (?), cadê a rima (?), e de
cadê em cadê o desastre dendê.
Ao defrontar-se com uma metáfora
nua (à Ricoeur) é que o imbróglio
começa.
SENTIDO EM POESIA
Poeta não dá sentido a ninguém e nunca.
Quem constroi o dado do sentido é leitor.
Poeta apenas estabelece na página o caos da palavra.
Subestabelecido no livro.
Leitor constroi (ou demiurgia) cosmos desse
caos verbal, retira desse caos o cosmos do
sentido. Então, quem dá sentido ao poema é leitor.
A poesia absoluta é a que permita a
emergência de novas significações. Tal,
como Paul Ricoeur, em Metáfora
viva, em que trabalha e conceitua
a hermenêutica da plurissignificabilidade
do texto poético.
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