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Dom, Jun

Ensaios
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Quando li Elementos da linguagem, de Martinet, em 1985 (conforme datação manuscrita, não a carbono, mas a grafite), o que foi vital a mim como “curioso” de “entender poesia”, deparei-me com o polêmico problema de aplicação à poesia dos dois níveis de articulação da linguagem. Denotativo e conotativo. Primeira e segunda ou dupla articulação.

 

 

Para Martinet, a palavra (monemas) é a unidade da primeira articulação da língua. E é do uso inesperado das palavras que se origina o pensamento original. Vem à tona, então, a questão vital da ambigüidade em poesia.

Ora, se a língua por e em si é ambígua; quanto mais complexa, bela, evolutiva, rica a língua mais ambigüidade denota, mesmo no seu uso normal, na utilização cotidiana, necessária, comunicativa, informacional (se flagram, ocorrem situações de ambigüidade, daí a exegese do direito), da análise a que nos propomos. quando falamos, usando o código).

Quanto mais na linguagem poética (conseqüente, incoerente por conseqüência, de efeito conotativo, abstrato, amplo, plural), quando a ambigüidade é louvável, predomina, mesmo é dominante de cabo a rabo.

O que é ambíguo na língua desatende, inverte as expectativas ou perspectivas em relação ao uso normal, prosaico do idioma. Assim, revela possibilidades inesperadas. Gera um tal potencial de multientendimento, de plurissignificação, que assusta. E essa condição plural é própria da poesia, é fornecida pela linguagem, quando ou enquanto poética, que mobiliza todo poder conotativo e de expressão ambígua da linguagem. é fornecida pela linguagem quando ou enquanto poética, que mobiliza todo o poder conotativo e de expressão ambígua da liguagem. Nesse sentido, pode-se dizer que a mensagem poética (o que conote, prodiga a poesia) é altamente significativa (isto é, informativa).

Tal que é de difícil apreensão. O cipoal, a catadupa, o volume, a selva selvaggia de significados (plurais, intensos, simultâneos, vário e sobredeterminantes) são tais que dificulta a decodificação e exige de leitor criatividade e disposição apta a empreender a viagem (dantesca, joyceana, mallarmaica, jorgedelimaiana) por tal e esplendorosa selva, périplo altamente gratificante, abstrato, inteligente, de alta conotatividade, em que se denote o tirocínio, a inteligência brilhe, esplenda o poder criativo exegético de leitor viajante do barco da poesia absoluta.

Citando – conforme anotei em 1983/4, Haroldo de Campos, trago à colação Umberto Eco: “A mensagem reveste uma função estética (prática, vca) quando se apresenta estruturada de maneira ambígua e se entremostra autorreflexiva, isto é, quando chama a atenção do destinatário (leitor) antes de tudo (e sobremodo) à própria forma dela, mensagem”. Daí, o dito e redito: a poesia, o poema não está na mensagem, porém na forma dessa mensagem. O conteúdo verdadeiro e patente da poesia é a forma (é o significante – e não o que este, como mero veículo, signifique.

É a poesia, em síntese, o que Eco denomina Obra Aberta. Ou abertura da mensagem poética ao infinito (da hermenêutica leitoral).

Bense, Max, via Haroldo de Campos: “A informação estética transcende a semântica (referencial) no que diga respeito à surpresa, à improbabilidade, à imprevisibilidade da ordenação dos signos”. Eis aí a suma do que seja a poesia. 

Murilo Gun

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