A poesia é o uso desviado da norma, distorção involuntária da gramática, transgressão constante e intensa (filológica, dicionárica ou não), em especial lexical, da palavra (ou sua desordem vital) e da ordem sintática vigente. O caos no cosmos do verbo. É o sentido alterado da palavra (ou das palavras em coito sintagmático, em pleno orgasmo metafórico). A alteração vexaminosa do sentido ordinário e plenamente estabelecido pela instituição (conservadora e mesmo reacionária) da gramática.
Leitor de tal poesia (de letal poema) deve ter necessariamente sua sensibilidade também alterada, sua leitura deve ser distorcida, insubmissa (não aceitando nenhuma regra escrita ou não, gramatical ou o que seja, que o desvie do sentido desviado). O entendimento de tal distorcionário poema (por igual leitor) deve ser totalmente distorcido. Igual distorção sentimental ou crítica deve prevalecer.
Daí o aconselho: manter distância estratégica e colossal de poemas pueris e arrumadinhos inofensivos de rima, coisas de sentido prévia e exatamente estabelecido. Coisa já mastigada, deglutida, vômito de rima, eczema lírica, impingem de palavras impingidas à página, com apreço métrico e teia redonda de rimação. Arre!
Mantenha distância de soneto não ambíguo, dicionarístico, bilaqueanário. De poema comum, “artístico”, mecanicamente estético, ordinário (isto é, conforme a ordem gramatical e de acordo com compêndios da velha versificação). Ou seja, ordenado sintaticamente (começo, meio e fim – moralmente consequentes, direitinhos). Gramaticalmente corretos.
Mantenha máxima distância semântica nos textos poéticos. Evite ao máximo a compreensibilidade fácil, dada (não construída nem imaginada). Reimagine-se.