à celeste dissonância da palavra
Forças passionais urdem na página
o debacle da alma, expõem
ao mundo o nervo da vida ferido
pelo torvelinho da paixão
a arder como um vulcão do corpo
ciente da inutilidade do traço
da inanidade da tinta a pena
dolorosamente desiste mas entrega
à alma do papel seu instinto e destino
sabe que sempre vence
sentimento de injustiça
oferece em holocausto
à perda da potência interior
palavra trêmula
a bailar no papel
esse intacto abismo branco
como folha do outono
tangida ao acaso de um vento vagabundo
toda dissonância do espírito
se funde com simetrias severas
em vorazes máscaras encontra
simulacro ideal para
melhor soar sua dissidência
desmesura abre suas asas
voa sobre abismo consciente do céu
treva unida à alma
corpo e vento de mãos dadas
aragem da morte (sopro inverso)
ou da praça descrita da carne
a espadanar folhas do ocaso outonado
para casta árida de um canto
qualquer da vida dissipada
seca como cacto abandonado
até que informes gritos
de um deus despedaçado
lastreiem céus
perambulem nos olhos
do poeta cansados
da brancura infalível da página
(que resiste a seus falsos intentos poéticos)
até que lucidez emirja
do poço frio da vida
para centro da náusea
até que lucidez
inflexível e fria
desista da jornada e use
como lápide branca
oca página onde
poema rasteje
incompreendido falso.