Marcondes Calazans
O poeta é alguém que pensa. A ideia de poesia é ausente quando ele se encontra de lápis na mão e papel sobre a mesa. Ele (o poeta) escreve o que pensa sobre tudo. Na maioria das vezes, sobre dilemas e agruras existenciais. Poesia e poética são a ética do poeta por vezes na absoluta certeza de que sua dialética é a felicidade e a tristeza, é nutrir-se para quem sabe sorrir ou ficar triste.
Os ingredientes do poeta para compor seus poemas oscilam entre os termos saudade, ausência e solidão. O poeta é o alquimista do poema, às vezes sem rima, sem vírgula, sem interrogação ou exclamação. Ele escreve e independe da razão. Expõe apenas o que se encontra em sua essência, que é o imaterial a conduzi-lo à imortalidade. O poeta não morre jamais! O poeta fala do coração, do que será... Da mulher que passa, como Vinicius de Moraes:
“Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!”
Ou da mulher que fica: “Fica comigo esta noite/E não te arrependerás.” (Adelino Moreira e Nelson Gonçalves). Do amigo que se embriaga por causa dessa mesma mulher. Do amigo que, apenas chora sem uma razão de ser. De quem partiu simplesmente (Admmauro Gommes/
Pelos sete mares):
“As pessoas que partem
parecem que partem
alguma coisa dentro de nós.”
O poeta é o único ser cercado de ingredientes suficientes para apenas em algumas linhas transformar uma palavra em verso, bem como uma pedra em poesia (“Tinha um apedra no meio do caminho – CDA).
O poeta é, simplesmente. Com a poesia, ele tenta tornar possível a transmutação da vida material para o imaterial e, por fim, para a imortalidade (“Cansado de ser moderno/agora serei eterno” - Drummond), que é capaz de prolongar a vida indefinidamente.
O que mais poderia dizer?
PROCURA-SE UM POETA!
Um poeta não são todos os poetas, essência de iluminados que por virtude ou dom, carrega o cerne transcendental das profundezas da eternidade, de um estado de espírito sem limites entre o mundo que vive e adota e o espaço infinito que cria, recria e inventa.
Se fosse falar do poeta viria em minhas lembranças uma infinidade de nomes, de títulos, de personagens, do mais inusitado na forma de poetizar ao mais previsível na maneira de escrever versos.
Um poeta é essencialmente e igualmente um ser na subjetividade existencial, quando em seus pensamentos se misturam as rimas, os ritmos e os encontros vocálicos e consonantais dos seus versos, na junção de uma vogal, de duas vogais, de uma semivogal mais vogal, mais semivogal de onde simplesmente se origina a sílaba.
Um poeta é um só ser, embora com várias vertentes em permanente movimento, do agnóstico ao crente, do sonhador ao pragmático, do absoluto ao finito, do restrito ao limitado, do relativo e parcial ao imperfeito, misturado e impuro.
O poeta se encontra fácil, basta se deparar diante de alguém que escreva ou rabisque algumas linhas e defina o que escreveu de poesia, mas Um Poeta não se encontra em qualquer lugar, por ser um ser indivisível na particularidade da sua existência e na infinitude de sua imortalidade.
Procura-se UM POETA!