Poesia é expressão de imagens objetiva. E não produção de sentidos (íntimos, púbicos, pessoais, públicos, gerais).
O sentido é algo controverso. Muito interior e variado. Amplo, quase físico, psicológico. Íntimo.
Em literatura, especialmente em poesia, não interessa a variação do sentido, sua permanência ou precisão. Não tem valor, nela, o sentido lógico, filosófico, sociológico, psicológico. Só o linguístico. Isto é, o sentido advindo ou integrado no signo linguístico. E voltado à mensagem poética em si.
A cilada foi considerar a língua um saco de palavras (de coisas e nomes) em que a cada coisa correspondesse um nome (o sentido). Ao repertório do mundo o dos signos, elo automático, conjunto fechado.
Sentido seria essa relação (lógica, obrigatória, permanente) entre coisa e nome (palavra).
O sentido: convenção, representação ou a imagem da coisa (não em si).
Saussure abriu o jogo. “O signo linguístico une, não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica” (representação via discurso e fala). Isto é, entrelaça um significado a um significante.
Mas, pergunta-se: qual o sentido (direção) do movimento. Presumo que não do significante ao significado, porém do significado ao significante. Sendo a partida, primeiro, o significante.
A um significado corresponderia um significante ou, vice versa, a um significante um significado?
Em síntese, o signo é uma entidade psíquica, humana, com duas faces, sendo a imagem acústica uma representação e o conceito, o sentido em si, a abstração.
Em poesia, é vital entender (não o poema absolutamente) que não se lida com ideias dadas de antemão, mas com valores. À poesia não interessa a inequivocidade de uma palavra tal que só diga respeito a realidades designadas (referências). E isoladas.
Interessa-nos (a nós que lemos lendo poesias) as relações de cada palavra (não com a realidade ou nesga dessa que represente) com outras palavras. Daí a extrema mutabilidade do sentido poético. Tal como no xadrez, cada jogada põe em cheque todo o sistema, face à condição relacional e não imobilidade do jogo.
Ou seja, o valor reside em que o conceito não o é.
O sentido estabelecido em poesia é balela. Este é cômputo ou acoplamento de elementos (conceituais) presentes e ausentes, sucessivos e simultâneos, reais e figurados. E assim por diante.
O que seja arbitrário, ausente, tempoespaciado, figurado está no presente separado no tempo e no espaço, reais em si, relacionados por laços de associações imemoriais.
Em poesia, cada palavra é um universo. É um e mil e outro e mais versos. É uma minação de sentidos estabelecidos e por estabelecer.
O sentido é o amálgama das representações sugeridas à emissão das palavras (digamos dicionarizadas, com repertório estabelecido) e das outras representações construídas (ou criadas) no instante da expressão. (Pelo poeta ou pelo momento).
Da conjugação dos sentidos virtual e atual das palavras advém o sentido real. (Se existir).
Há, num mesmo, vário sentido: habitual, ocasional, abstrato, concreto, simples, complexo, próprio, figurado. Tudo é sentido, independentemente do que sentimos e de como o fazemos. Não é preciso sentir o sentido. Apenas contemplá-lo e dessa liturgia extrair toda a beleza da palavra.
Não se desespere ao ler poema por não achar sentido. Mas comemore. Nunca busque sentido, em poesia, como condição do gozo poético. É bem o contrário. Sentido não interessa. Interessa em poema o ser (poético). Não seja banal (leitora) a perder tempo e neurônio em busca de lendários sentidos inexistentes ou inúteis.
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