Poesia está em não dizer
no arredor do silencio
na placidez do bismuto
no arrolar da imagem
na arruela da página
no arrulho da romã
e na mecânica do hemistíquio.
Na fluidez sincera da pausa
no colapso do medo verbal
na entranha da palavra
precipício ou purgatório
na beleza do mercúrio
está a poesia.
(não está na pressa que estrangula verso).
Na música que víbora
na harpa da trêmula alma
no torneio irresoluto do verbo
na lógica da sinfonia sintagmática
está a poesia
e na veia do tempo
inocula histamina.
No expulsar do antídoto
que desexita corações
na desmedida grega
no sono da palavra liberdade
(que Éluard eternizou)
e na bagem da vocabular cascável
a poesia feroz está
em vigília felina
na quina da hora verbal
na omoplata do silêncio cristalino
quando Atlas suspende o mundo
no peso cúbico do tédio
na virulência macia da náusea
nos músculos lassos da trade
e no violino dos olhos
está a poesia
nessa geografia de íncubos
nessa safra de obuses e atrizes
nesse horizonte de fortalezas invencíveis ou civis
está a poesia.
A poesia está no desencanto ou na desventura
(e na épura que beira o espírito).
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