Era uma vez uma geometria bêbeda
que vagava sinuosamente entre gráficos
e pedregulhos de sílabas da palavra simetria
atravessava ângulos esquerdos sem avisar
detestava vísceras e número primo
frequentemente desacatava triângulos
em especial isósceles íntimo de Aristóteles
pupilo de Pitágoras.
Sempre se melindrava quando
retângulos a olhavam
não suportava aritméticas sóbrias
nem losângulos obesos a geometria bêbada.
Gostava quando ébria de caminhar em paralelas
porque sabia que assim alcançaria o infinito.
Um dia a geometria embriagada
deu um tropeção numa hipérbole
e caiu num círculo (não concêntrico, vicioso).
Custou a encontrar uma tangente
e voltar ao paralelepípedo
de onde veio.
O poema vai às estrelas
se o poeta parar de sonhar.
Com medidas de som
e aritméticas do verbo.
As ondas cósmicas desaguam
no pensamento humano.
Segundo a lógica gravitacional
jamais voaríamos.
Conforme a do soneto
quatorze muralhas nos derrotam.
O mundo mental é rebelde
a medidas, regras, parâmetros e paramentos.
Os campos da força lírica
não os domam normas estáticas.
{jcomments on}