Ao meu filho MURILO GUN
Lembro o tato, a consistência áspera e úmida, torta
de estrelas coaguladas (feitio de teu olhar antigo)
grelha de abismo ou velhos marinheiros congelados
na épura dos mares setentrionais de águas geométricas
Espumas vicejam na paisagem marítima e vasta
que avisto da praia entrecortada de gaivotas azuis
enternecendo banhistas e pintores no areal viscoso
da liga de água marinha e areia orvalhada
Como pudim exato antes o sol que bane
sombras como o cão do meio dia morde demônios
acantonados no breu das almas impuras solenes
como a noite abole os gatos licenciosos da tarde
A vir ou ratos que navegam dos ralos
da manhã vazia para o pé dos calçadões
protetor e acalorado pela inefável luz do leste
atirada como cobra contra ventre de mamíferos
Esqueço o mar basto e trêmulo como pele de tigre
ou monte de urze ou sítio de cinza
emosaicado de ondas cujas formas, cores, cóleras
e labirintos traem fantasias de velhos marinheiros.
São Paulo, 1997
HOTEL JANDAIA
{jcomments on}